Hoje, muitos se irritam quando o telefone toca e, do outro lado da linha, fala a voz de uma máquina ou de um agente de telemarketing fazendo alguma oferta. No passado, relativamente recente, o que soava era a campainha das casas e dos apartamentos e, diante da porta, aparecia um vendedor de carnê. Sim, carnês com as mais diversas promoções e produtos eram oferecidos por dedicados e incansáveis mercadores de ilusões, que ofertavam sorteios de prêmios, de porta em porta, por todas as cidades do Brasil.
Esses carnês eram blocos de papel com prestações que deveriam ser saldadas mensalmente para, no final, o comprador receber o produto pelo qual pagou parceladamente. Para incrementar o interesse dos consumidores, enquanto corria a dívida, eram promovidos sorteios de carros ou de outros sonhos de consumo.
Talvez uma das campanhas mais exitosas e duradouras desse tipo de comércio tenha sido aquela dos cortes de tecido Erontex. A Erontex, nome comercial da Empresa Brasileira de Comércio Exportação Ltda., foi uma rede de lojas com sede na cidade de São Paulo, fundada na década de 1950 por Eronides Alves de Oliveira, também conhecido por Eron, e que expandiu-se com a venda de carnês que sorteavam prêmios como automóveis Simca Chambord (ou peruas Simca Jangada) e distribuíam cortes de um tecido chamado “tropical”, cujo anúncio apregoava: “o tropical nacional de sucesso internacional”. Os sorteios eram realizados em programas de entretenimento na televisão.
Primeiro, na extinta TV Excelsior e, posteriormente, na Rede Tupi e na TV Bandeirantes. Havia a seção Erontex Bate à Sua Porta, em que era entregue casa ou apartamento (caso o visitado pela equipe possuísse o carnê e o pagamento estivesse em dia). Esse modelo de venda de carnês foi copiado por outras empresas, como as Casemiras Nóbis, a fábrica de cobertores Termolã, a metalúrgica Elmo/Diplomata, que vendia faqueiros, ou as famosas Cestas de Natal Amaral.
Depois, vieram também carnês para vendas de terrenos, como os da Praia do Quintão, ou os de clubes de futebol, entre outros mais recentes como, o Baú da Felicidade, o Carnê Ciabra Comsorte ou o carnê Girafa. Antes, a Erontex só parcelava cortes de tecidos, mas, nos anos 1970, começou a vender eletrodomésticos. O ápice dessa empresa foi na década de 1960, patrocinando a programação da Rede Excelsior de Televisão. Seus slogans, que davam nome aos programas, ficaram famosos na época, como: “Erontex Dá Sorte” e “Erontex Dá Mais”. Na década de 1970, a Erontex entrou em crise e o empresário Eron, que atualmente vive em São Paulo, criou o Eron Hotel, em Brasília, vendido pelo proprietário em 2008.