CORREÇÃO: a viagem de retorno de Manaus para Roma do papa João Paulo II em 1980 ocorreu no dia 11 de julho, e não em 11 de junho como publicado como publicado entre as 4h e as 17h de 11 de junho de 2020. O texto já foi corrigido.
Fredy Kurt Wiedemeyer, 85 anos de idade, comandante aposentado da Varig, morador de Garopaba, SC, enviou para o Almanaque Gaúcho um relato sobre aquele que talvez tenha sido o voo mais importante de sua carreira de quatro décadas naquela extinta empresa aérea.
No dia 11 de julho de 1980, às 17h30min, hora local, o PP-VMS, DC 10, da Varig, decolava de Manaus para um voo muito especial. A bordo, viajava com sua comitiva a personalidade mais notável de nossos dias, o papa João Paulo II.
A tripulação técnica e de cabine aguardava com grande nervosismo o embarque do Papa. Quando ele apareceu no finger, após o embarque de todo o seu staff, os flashes das câmaras fotográficas dos tripulantes registraram o início de uma viagem inesquecível. O comandante Pinto e o Sr. Hélio Smidt, então presidente da nossa companhia aérea, aguardavam o Papa na parte interna do avião e apresentavam as boas-vindas da tripulação da Varig. Notou-se logo a grande simpatia e simplicidade daquele polonês que, em pouco tempo, tornou-se a figura mais comentada do mundo.
Não parecia cansado e, após breve visita à cabine, sentou-se. Depois da decolagem, quando o avião cruzava aos 15 mil pés, sobre a luxuriante floresta amazônica, a porta da cabine de comando se abriu e o Papa, com toda a sua simpatia, nos confiou a sua pessoa dizendo, em um bom português, que agora estava em nossas mãos.
A conversa durou uns 15 minutos. Sua admiração pela floresta amazônica era grande, e seus comentários sobre o Brasil sempre foram elogiosos. Reparamos que era uma dessas pessoas privilegiadas, que nascem para ser líderes e têm um poder de concentração fora do normal, vivendo o momento presente como se fosse o mais importante.
Depois da visita à cabine, sentou-se na saleta em que fora transformada a primeira classe para redigir dois discursos, que iria proferir no sábado, quando chegasse a Roma, e no domingo, na Praça de São Pedro. Jantou com três convidados seus, comendo muito pouco. Após fazer suas orações, recolheu-se, dormindo por mais de cinco horas. A duas horas de Roma, levantou-se e, como havia pedido anteriormente, comeu mamão da Amazônia e bolos.
A comitiva era numerosa: além de 60 jornalistas estrangeiros, contava com mais de 20 componentes do clero do Vaticano. Estavam presentes personalidades importantes como o cardeal Cairolli, o cardeal Paul Marcinkus, o padre Noel (auxiliar pessoal do Papa), além do fotógrafo oficial do Vaticano, Arturo Mari.
Pouco antes da chegada a Roma, o Papa apareceu na cabine novamente e, pessoalmente, entregou à tripulação técnica, em um belíssimo estojo, uma medalha comemorativa a sua visita ao Brasil. Foi um momento de grande emoção. Também abençoou a todos e assinou algumas fotografias e bíblias. Ficamos satisfeitos, emocionados e orgulhosos de termos sido escalados para essa jornada, que significou muito para a Varig e para o Brasil.
Os tripulantes técnicos foram: os comandantes Lili Lucas de Souza Pinto e Luiz Laffite, os segundos-oficiais August Strepel e Fredy K. Wiedemeyer e os engenheiros de voo Elton Teixeira e Curt Campani. A viagem chegou ao fim após nove horas e 56 minutos de convívio com a mais importante personalidade do nosso século.