Com surpresa, vi no noticiário da TV que Cristovão Colombo (1451-1506), cuja estátua contempla o mundo do alto de sua coluna em Barcelona, na Espanha, também está tendo sua figura histórica (e suas estátuas) questionada. Diante de determinadas atitudes do governos dos EUA e do Brasil, sou obrigado a refletir se, de fato, foi mesmo uma boa ideia o navegador genovês ter “descoberto a América”.
Brincadeiras à parte, nos dias atuais, manifestações antirracistas deflagradas pela morte atroz do negro George Floyd por um policial branco, em Minneapolis, nos Estados Unidos, motivaram ativistas da cidade inglesa de Bristol a atirar nas águas daquele importante porto britânico a estátua do mercador de escravos Edward Colston(1636-1721). Antigas homenagens que agora são consideradas politicamente incorretas ocupam cada vez mais as atenções e são severamente questionadas.
Não foi diferente em outros momentos da história. Lembro-me de ter fotografado, em 1993, enormes esculturas em bronze confinadas no Canto dos Caídos, no Parque Gorky, de Moscou, depois da queda do regime comunista na Rússia.
O esteticamente indefensável monumento ao bandeirante Borba Gato (1649-1718), localizado na Avenida Santo Amaro, na capital paulista (obra de Júlio Guerra, inaugurada em 1962) é outro alvo daqueles que consideram inaceitável homenagear um escravizador de índios, enaltecido exclusivamente (de forma seletiva) como um desbravador do interior brasileiro. Em São Miguel das Missões, no noroeste gaúcho, onde estão as ruínas jesuíticas, poucos sabem da existência, ali, de um antimonumentoaos bandeirantes responsáveis por atacar as reduções.
A obra do artista paulista João Loureiro, 48 anos, chamada Jaz, ao contrário de se elevar aos céus, como costuma acontecer, está abaixo do nível do chão e meio inclinada, remetendo a uma descoberta arqueológica e causando impacto como algo mal enterrado, de uma história mal contada. Um tanto escondida e afastada da área principal do sítio arqueológico, a instalação, cheia de simbolismo, fica a 1,5 quilômetro da igreja (que é a construção principal), diante do cemitério e próxima da estrada que sai em direção ao município de Bossoroca.
Perguntado como vê a situação atual, Loureiro alerta que a história também se faz todos os dias (como ocorreu em Bristol), mas que é preciso ficar atento para que, nesse ímpeto, não devemos nos esquecer dos homenageadores e de suas intenções, estes igualmente muito importantes, pois são agentes disseminadores de valores discutíveis, mesmo estando desconectados do contexto histórico em que atuou o homenageado.
Colaboraram Fábio Scussel e Roger Jaekel