A revista Madrugada circulou apenas entre os meses de setembro e dezembro de 1926, em Porto Alegre. Embora tenha tido uma vida muito curta, apenas cinco edições, é referência cultural em nosso Estado. Em seu primeiro número, de 25 de setembro de 1926, a página 16 é dedicada ao pintor Libindo Ferrás.
“O acontecimento culminante da vida artistica local na semana finda, foi decerto a inauguração, sabbado, da nova exposição de pinturas de Libindo Ferrás. Não é a nós que cabe apreciar a obra do eminente artista, que o juízo esclarecido da critica e a unanime opinião do publico frequentador de exposições já consagraram definitivamente em repetidas mostras. Fica-nos apenas registrar que a presente exposição do ilustre paisagista riograndense constitue um triunpho a mais, e dos melhores, a decorar a sua victoriosa carreira artistica (sic)”, diz a nota da revista.
Libindo Ferrás (1877-1951) nasceu em Porto Alegre e morreu no Rio de Janeiro. Em 1896, era pintor amador e fazia estudos para o curso de Engenharia. Em 1897 já estava no Rio, onde deveria prosseguir seu curso na Escola Politécnica, mas abandonou as aulas e embarcou para a Itália. Lá permaneceu por dois anos, recebendo lições de vários mestres e entrando em contato com museus e monumentos locais. Voltando a Porto Alegre, não instala de imediato um ateliê, pois dedica-se antes a uma vida boêmia e a perambular por diversas atividades, embora expondo com frequência nos salões de pintura locais.
Em 1903, Pinto da Rocha, da Gazeta do Comércio, falou sobre o artista.
“Libindo Ferrás é uma das organizações mais completas que temos conhecido em pintura. Não lhe falta talento, sobra-lhe sentimento, conhece o desenho, sabe ver, compreende bem o meio, mas... não tem constância nem persistência. Hoje dedica-se afetuosamente ao esporte do ciclismo, amanhã abandona o guidão e entrega-se à música, depois deixa a escala cromática e empunha os pincéis, em seguida larga a palheta e perde-se na matemática, aborrece-se da álgebra e vai ao tiro ao alvo, abandona as pistolas e agarra-se ao florete, arremessa as armas para longe e volta à pintura! [...] Desenha de todas as formas, pinta de todos os modos, lê todos os gêneros, conhece quanto instrumento há, joga todas as armas, sabe de todos os jogos, desde o xadrez ao gamão,[...] não é exímio em coisa alguma e, no entanto, podia ser um bom, um notável pintor. [...] Libindo não tem constância, borboleteia, e por isso não é um artista consumado, mas um belíssimo, notável amador, cheio de talento, ao qual se faria enorme serviço prendendo-o para obrigá-lo a pintar, pintar e pintar”, escreveu Pinto da Rocha.
Entretanto, essa vida inconstante teria um fim em 1908, quando participou da fundação do Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul (Ilba). Em 1910, por iniciativa de Libindo, foi criada no mesmo instituto uma Escola de Arte. Libindo foi indicado primeiro diretor e professor dessa escola, embrião do futuro Instituto de Artes da UFRGS, ao qual dedicou grande parte da sua vida.