O texto abaixo é uma colaboração enviada pelo jornalista Inácio Knapp:
“Sou muito ligado a minha cidade, a meu bairro e, nos dias seguintes à medicação que recebo por conta de um câncer, fico mais falante, chato algumas vezes. E me torno uma espécie de caçador de memórias. Das minhas memórias. Tem sido sempre assim. Julgo esse acontecimento extremamente saudável para o meu organismo nas atuais condições. Tem sido uma rotina de 14 em 14 dias nos últimos anos.
Também fico mais otimista e alegre. Deixo um pouco de lado o meu ceticismo de jornalista. Parece que os neurônios confabulam entre si e resolvem prolongar esses bons efeitos. Sinto-me muito bem.
Dia desses me peguei assobiando. Sempre gostei de assobiar. Acho que era a música do filme Cantando na Chuva. Imediatamente, lembrei-me do meu pai, que adorava assobiar. Para encontrá-lo no bairro Floresta, em Porto Alegre, onde morávamos, bastava seguir o som do seu assobio. No supermercado, então, era fácil localizá-lo. Lá, ele tinha um parceiro fiel a sua prática, que também era, como ele, dono de bar. Era o Walter. Dois assobiadores conhecidos na praça. Eram amigos e adoravam expressar sua alegria cotidiana entre as gôndolas do extinto mercado Zottis, na esquina da Cristóvão com a Ramiro.
Hoje, não me lembro de escutar assobios por aí. Quem escuta alguém assobiando alegra-se um pouco. Neste mundo danado de louco, estamos entretidos demais com uma imensidão de informações. E tem o planeta digital e os ouvidos bloqueados para quase tudo. Será isso? Talvez a falta de músicas marcantes para se assobiar. Como um novo otimista, acredito que esta possa ser a causa principal. A ausência de boas melodias. Eu posso contribuir com algumas sugestões. Canções de verdade. E boa música faz bem. Afasta o estresse, que nos causa um mal danado. O estresse abatuma.
Quem assobia não resolve problemas, apenas dá um bom chute no mau humor. Gosto de um ator e cantor que foi galã de cinema e fez parte do grupo do Frank Sinatra. Ele tinha uma voz alegre, romântica, essas questões que a gente julga bobas num tempo mas que depois gosta demais em outras circunstâncias. Tipo achar um passeio de barco algo de turistão, brega, antiquado. Eu achava isso. Mas mudei. É ótimo e recomendo. Tenho tido bastante tempo para refletir sobre esses temas e aproveito para passar um pente fino e não lidar com bobagens. Tenho tempo, sorte e ainda posso aprender novas histórias. Sou um privilegiado. E sou grato. Mas o ator/cantor de quem falava é o Dean Martin. Ele gravou um repertório com músicas italianas, que nos estimula até a dançar. O nome do disco é Dino: The Essential Dean Martin. That´s Amore, Volare e Everybody Loves Somebody estão entre as 30 músicas selecionadas. Em seu celular, se você tiver o Spotify, dá para acessar na hora e sair assobiando por aí, angariando mais seguidores. Vamos assobiar! Faz bem”.