O artigo a seguir é uma colaboração do coronel Carlos Malan, especialista em História Militar pela Unisul e vice-presidente da Academia de História Militar do Brasil/RS (AHIMTB/RS). Seu pai foi Alfredo Souto Malan (1908–1982), ex-chefe do Estado-Maior do Exército (1970–1972) e autor de um livro sobre a Missão Militar Francesa. Carlos também é neto do general Alfredo Malan D’Angrogne (1873–1932), que foi adido militar na França e um dos protagonistas do acordo firmado em 1919.
“A Missão Militar Francesa (MMF) de Instrução no Brasil, chefiada pelo general Maurice Gamelin, foi contratada no dia 8 de setembro de 1919 para orientar, a partir de 1920, a modernização do Exército brasileiro (EB). Inicialmente prevista para quatro anos, teve seu contrato renovado, sucessivamente, por 20 anos, permanecendo entre nós de 1920 a 1940. Consistia em reorganizar, em um primeiro momento, as escolas militares e, em seguida, o próprio Exército. Os termos do contrato estipulavam que oficiais franceses comandariam durante quatro anos as escolas de Estado-Maior (EME), de Aperfeiçoamento de Oficiais (Esao), de Intendência, Veterinária, Saúde, Equitação e Educação Física. O contrato representou um grande passo na direção da profissionalização e modernização do Exército e contribuiu para fortalecer o poder militar.
Uma das principais consequências da atuação da Missão Militar Francesa, na Escola do Estado Maior, foi a introdução e o ensinamento de elementos universais para o estudo do problema tático, os chamados fatores da decisão militar: a missão, o inimigo, o terreno e os meios. Assim, os missionários franceses se encarregavam de reorientar a doutrina do Exército, elaborar novos regulamentos e aperfeiçoar o ensino e a instrução militar. Sua ação resultou na reformulação das missões do Estado-Maior do Exército e na criação da Escola de Aviação Brasileira no Campo dos Afonsos, embrião da Força Aérea Brasileira (FAB).
Colocou-se em prática a ideia, então dominante, de que a finalidade principal do Exército era o preparo das forças nacionais para a guerra e, assim, foi viabilizado o enquadramento do potencial militar. Ademais, a mobilização militar passou a ser encarada como uma mobilização nacional.
A tela O Contrato, pintada pelo coronel Pedro Paulo Cantalice Estigarríbia, retrata a assinatura do documento contratual da Missão Militar Francesa, em Paris, no dia 8 de setembro de 1919. Os personagens que constam na cena são: da esquerda para direita, em pé, o embaixador brasileiro Raul Régis de Oliveira; sentado assinando, o ministro da Guerra da França George Clemenceau; em pé o ministro das Relações Exteriores da França Stephen Pichon; e, assistindo sentados, à frente, o adido militar do Brasil na França, tenente-coronel Alfredo Malan D’Angrogne e o chefe da MMF, general Maurice Gamelin.”