Meu querido neto Ricardo Mohr Chaves, 2018 foi o primeiro ano de nossas vidas que passamos juntos. Quando você nasceu, em outubro de 2017, os teus pais, Leonel e Ana Paula, decidiram que tu terias o meu nome. No momento em que fiquei sabendo disso, é claro que gostei da homenagem, mas fiquei pensando se valeria a pena, para ti, carregar esse fardo. Afinal, peso mais de 130 quilos.
Fiz um balanço e concluí que tenho, ao longo dos meus 67 anos, me esforçado muito e que tentei (continuo tentando) fazer o que estava ao meu limitado alcance para que não haja motivos, pelo menos até aqui, para que você tenha alguma razão em se envergonhar disso. A história sempre vem de longe... Teu outro avô, o Ed (Edson), não conhecemos, mas, a julgar pelo comportamento da vó Fátima, e pelo da tua mãe, deve ter sido um cara legal. A Ana Paula talvez possa te contar alguma coisa sobre ele.
Quanto ao teu bisavô Hamilton, posso te assegurar que pagou um preço alto por sonhar com um país mais justo. Por isso, quando eu passava da infância para a adolescência, sofri um pouco, era visto como o filho do subversivo, do cara que queria o mal do Brasil.
Demorou um pouco para que houvesse o gratificante reconhecimento de que ele e sua turma estavam ao lado da luz. Alguns dos que, na época, erraram ao julgá-los até pediram tardias desculpas, o que aumentou o meu orgulho em ser filho dele. A política e a vida são assim...
O ano que está terminando não foi fácil. Às vezes, quando se está errando, especialmente se temos muitos que compartilham nossa opinião equivocada, fica difícil identificar o erro. Mas, por experiência, digo que o melhor é sempre resistir às adversidades. Fica tranquilo e luta por tuas convicções. As coisas vêm e vão. Nossos erros trazem consequências, muitas delas irremediavelmente danosas para nossas aspirações, por mais nobres que sejam. Mesmo assim, é preciso não desistir e ter paciência. O tempo e a história acabam consagrando a razão.
Ricardo, tu ainda não caminhas, mas já aprendeu a engatinhar com velocidade. Ainda não fala tudo, mas já diz alguma coisa e, mais do que tudo, começa a deixar claro o que quer e o que não quer. Isso é um baita começo. Fico feliz em poder acompanhar essa evolução. Até fiz um livro chamado A Força do Tempo. Um dia, quem sabe, tu vais lê-lo e saberás um pouco mais sobre mim. Como o tempo não perdoa, vou fazer já uma dedicatória e deixar um exemplar, previamente autografado para ti. Vou escrever algo como: Do teu avô que te ama muito, Kadão.