No dia 11 de novembro de 1918, às 5h, um armistício com a Alemanha foi assinado, em um vagão ferroviário, em Compiègne. Há cem anos, às 11h do dia 11 do mês 11 de 1918, entrou em vigor o cessar-fogo. Em 28 de junho de 1919, foi finalmente firmado o Tratado de Versalhes, encerrando oficialmente a I Guerra Mundial.
O leitor José Alfredo Schierholt lembra que esse fato histórico foi decisivo na história da família dele: “O pai de meu pai (Bernard Heinrich Schierholt ) e o pai de minha mãe (Bernard Kloppenburg ), meus avós, estiveram na guerra. Ambos foram prisioneiros na URSS. Os dois conseguiram voltar para casa e decidiram emigrar para o Brasil.
E isso aconteceu com muitas pessoas! Eu nasci em 1934, em Hulha Negra (a 410 quilômetros de Porto Alegre, próximo a Bagé)... ”, conta ele.
Bernard Heinrich Schierholt
Segundo dados do passaporte militar do soldado mosqueteiro Bernard Heinrich Schierholt (avô paterno de José Alfredo), ele nasceu em 1875, em Haustette, Vechta, na Alemanha, onde era agricultor. Iniciou o serviço militar em 1897.
Em 1899, concluiu e passou para a reserva. Poucos dias antes de ele completar 40 anos, a Alemanha entrou na I Guerra. Em 19 de setembro de 1914, ele foi convocado.
O soldado Schierholt recebeu duas condecorações por bravura militar: em 1917, foi agraciado com a Cruz de Ferro segunda classe e, em 1918, com a cruz Friedrich August segunda classe. Nessa guerra, morreram em torno de 1,7 milhão de alemães e aproximadamente 7 milhões de homens de outros países.
Depois de meses como prisioneiro, na Rússia, voltou para a Alemanha. Licenciado do Exército, em 1918, recebeu minguados 65 marcos e um traje para retornar a Haustette. Com a ameaça de uma II Guerra Mundial, Schierholt, aos 50 anos, emigrou com a família, chegando a Rolante em 1926, onde voltou a ser agricultor. Seu irmão Johann Theodor Schierholt, três anos mais moço, ferreiro, também veio com a família para o Brasil. Os dois deixaram larga descendência.
Heinrich morreu em 1958, aos 83 anos. Theodor morreu em 1960, deixando 12 filhos, 39 netos, 93 bisnetos e 33 trinetos.
Bernard Kloppenburg
O Militärpass de Franz Bernard Kloppenburg o enquadra na classe militar de 1902. Agricultor, católico, solteiro e integrante da infantaria sediada em Münster, apresentou-se no quartel ainda em 1913. Menos de um ano depois, estourou a I Guerra. Franz foi convocado para servir como enfermeiro na segunda companhia. Em 1916, deixou em casa a esposa grávida e quatro filhos pequenos e partiu para a guerra.
O documento militar registra as principais participações de Franz na guerra: combates de trincheira junto ao Rio Isère, combates em Wytschaete-Bogen, lutas junto ao Rio Somme e a batalha de Flandres. No confronto de Verdun, morreram 434 mil alemães e 542 mil franceses.
Em 1916, iniciou-se a ofensiva de Somme, estendendo-se até o fim do ano, quando morreram 195 mil franceses, 420 mil britânicos e 650 mil alemães. Até 1919, ficou engajado no exército, retornando ao lar após ser prisioneiro na Rússia.
Na guerra, coube-lhe a tarefa de retirar feridos das trincheiras e de campos de batalha e enterrar as vítimas. Até o fim da vida, jamais recebeu alguma recompensa ou indenização.
Os bombardeios provocaram a perda parcial da sua audição. Serviu fielmente à pátria, mas sempre repudiou a guerra, que o marcou profundamente. Veio para o Brasil para que seus filhos não sofressem o mesmo tormento.
*Colaboração de José Alfredo Schierholt