
A centenária ponte de ferro sobre o Arroio Bom Jesus, inaugurada em 1913 e que ainda hoje liga as localidades coloniais de Picada das Antas e Harmonia, no município de São Lourenço do Sul, foi concebida e estava originalmente destinada a Bom Jesus, na serra gaúcha.
De fato, em viagem a Porto Alegre para tratar de assuntos relativos ao município que dirigia, o intendente (prefeito) de São Lourenço, Antônio Manoel Centeno (Nonô Centeno), em audiência com o jaguarense Carlos Barbosa Gonçalves, então presidente do Estado do Rio Grande do Sul (assim era chamado o governador na época), ouviu do chefe do Executivo estadual a notícia de que havia uma robusta ponte de ferro, pronta e encomendada para Bom Jesus.
Carlos Barbosa, como bom sulista que era, talvez soubesse (ou não) da existência de um arroio denominado Bom Jesus, em São Lourenço (“do Sul” somente seria acrescentado em 1944), cidade situada às margens da Lagoa dos Patos. De posse da informação, sem titubear, Nonô Centeno, feliz e aproveitando a ambiguidade da situação, tratou de acreditar que a tal ponte fosse destinada ao Arroio Bom Jesus e providenciou o transporte para o município que comandava, o que foi feito o mais rápido possível.
O arroio, um importante curso de água que frequentemente sofria com as cheias, o que impedia o acesso entre duas importantes localidades do interior de São Lourenço e causava grandes transtornos ao tráfego e ao escoamento de produtos coloniais da região, era um problema carente de solução.
Não é difícil imaginar a posterior reclamação que o intendente de Bom Jesus (na Serra) deve ter feito ao presidente estadual, que, aí sim, deu-se conta do erro involuntário (ou não). Mas, então, a ponte já havia sido transportada e repousava, desmontada, na margem junto ao arroio na zona rural de São Lourenço...

Na sequência, foi o enviado pelo governo estadual, no início de maio de 1913, doutor João Leivas de Carvalho, primeiro condutor da Secretaria das Obras Públicas do Estado, para, segundo informou a imprensa lourenciana da época, dirigir os trabalhos de montagem e a construção definitiva da obra de travessia, que há mais de um século encontra-se servindo à população e cumprindo, de alguma forma, “a finalidade a que se destinava”.
Colaboração de Edilberto Luiz Hammes, médico e historiador lourenciano