
O piauiense Lucídio Castelo Branco nasceu em Teresina, em 1926. Morreu aqui, em Porto Alegre, na última quarta-feira, aos 91 anos. Depois de morar por uma década no Rio de Janeiro, chegou à capital gaúcha, aos 22 anos, como escrevente concursado da Justiça Militar. Aos 18 anos, ainda no Rio, iniciou sua carreira de jornalista como repórter do jornal A Vanguarda.
Aqui chegando, em 1949, logo passou a desempenhar a função de repórter político da extinta Folha da Tarde, onde trabalhou até 1969. Desde 1961, era, também, correspondente do Jornal do Brasil. Foi ele o responsável pela implantação da sucursal gaúcha do JB, em 1964.
Em 1972, ele me chamou para uma conversa. Disse que não estava oferecendo um emprego ao atento e jovem fotojornalista que lhe ouvia, mas, sim, colocava a minha disposição a oportunidade de conquistar a vaga de fotógrafo que estava aberta. Eu teria três meses para provar que “era o cara”. Deu certo. Um mês e meio depois, eu estava contratado. Passado algum tempo, até um estágio de duas semanas na grande sede do JB, na Avenida Brasil, eu ganhei. Fantástico! Foto na primeira página e tudo a que tive direito.
Quando decidi deixar o jornal para ser freelancer da Editora Abril, voltei à sala do doutor Castelo, como era tratado por nós, já que também era advogado formado na Faculdade de Direito da UFRGS.
Está na idade de fazer merda, vai nessa, boa sorte, tudo de bom para ti
LUCÍDIO CASTELO BRANCO
Jornalista
Expliquei a ele que eu estava convencido de que deveria deixar o jornal. “Mas para ser frila?”, indagou o chefe. “Vai deixar carteira assinada num dos maiores órgãos de imprensa do país, férias remuneradas, 13º salário? Que idade você tem?”, perguntou. Respondi: “Vinte e três anos”. Ele sentenciou: “Está na idade de fazer merda, vai nessa, boa sorte, tudo de bom para ti”.
Sei que só queria o melhor para mim, mas nunca me arrependi. Aqueles que não tiveram a chance de trabalhar e conhecer o Castelo poderão ter uma boa ideia de quem foi e o que fez lendo Da Memória de um Repórter (casualmente, com 91 páginas, Editora Ages, 2002).

Como escreveu o jornalista Walter Galvani, no prólogo do livro: “(Castelo) ...foi um repórter atuante e tão envolvido e participante que, em mais de um momento dessa história de mais de 60 anos, esteve lado a lado com os protagonistas. Chegou a ser mesmo um deles, de certa forma, e o extraordinário repórter político que sempre andou envolvido com os grandes acontecimentos que fizeram a história do país na segunda metade do século 20, sempre tracionado pelo seu faro, se fez presente; foi o que se costuma chamar de ‘testemunha ocular’, junto aos maiores nomes da política brasileira”.

Castelo foi o primeiro presidente do Sindicato dos Jornalistas de Porto Alegre, após a intervenção na entidade no golpe de 1964. Com ele, o sindicato instaurou, pela primeira vez, o dissídio da categoria. Em 1968, foi presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), deixando como legado a regulamentação profissional dos jornalistas. Sua vida foi a saga de um jornalista que, modestamente, se autointitulava “apenas um repórter”. Foi mais do que isso. Foi uma daquelas pessoas a quem gente como eu deve muito.