Consta que o prédio da Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Boqueirão foi inaugurado em 1868. Portanto, está completando, em 2018, 150 anos. Boqueirão foi o primeiro povoado da região ao norte do município de Pelotas, que agora pertence a São Lourenço.
Desmembrado de Pelotas em 1884, passou ao status de vila e a sede do município, com o pomposo nome de Nossa Senhora da Conceição do Boqueirão, até 1890, quando a então freguesia de São Lourenço, situada onde o arroio de mesmo nome desemboca na Lagoa dos Patos, passou a ser vila e sede do, a partir de então, município de São Lourenço.
Quem passa pela rodovia estadual ERS-265, 14 quilômetros distante da cidade de São Lourenço do Sul, rumo a Canguçu, depara com a Igreja de Boqueirão, chamando a atenção para sua cúpula, diferente de todas as outras igrejas do sul do Brasil.
Embora católica, lembra as torres de igrejas de confissão cristã russo-ortodoxa, pois sua original forma é de um bulbo de cebola, típica dos países eslavos, fato que intriga historiadores, pois nunca houve imigração maciça desse povo para essa região.
De acordo com uma teoria levantada pelo pesquisador Pedro Henrique Caldas – descendente da tradicional família Gusmão, dona, nos primórdios de São Lourenço, de extensa sesmaria –, essa torre poderia ter sido desenhada por Carlos Othon Knüppeln, autor da planta urbana da freguesia de São Lourenço e agrimensor, que estudou e dividiu a colônia lourenciana em lotes para ser vendida aos imigrantes teutos trazidos pelo fundador Jacob Rheingantz.
Knüppeln (1822-1904) era natural da província prussiana de Posen (Posnânia, hoje pertencente à Polônia), onde viveu sua infância, zona de forte influência eslava, o que poderia perfeitamente ter influído na inspiração do projeto boqueironense.
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Boqueirão, a mais antiga da região, é repleta de histórias, como a da sua inusitada torre, a da tradicional festa anual do Divino Espírito Santo (no último domingo, 20 de maio, foi comemorada a 129ª), trazida pelos portugueses, e a do desaparecimento de seu antigo, grande e sonoro sino.
Na igreja, também repousam os restos mortais de Donana, irmã de Bento Gonçalves e mulher de José da Costa Santos, cuja filha, Perpétua, era casada com Antônio Francisco dos Santos Abreu, que administrou a fazenda lourenciana do Sobrado.
Mas isso já é outra história.
Colaboração de Edilberto Luiz Hammes, médico e historiador