O livro Lucas Torres, Bandido na Argentina, Mocinho no Brasil, que será lançado na terça-feira próxima, dia 24, às 17h, na Martins Livreiro (Rua Riachuelo, 1.291), é a biografia, que mais parece novela, desse castelhano que viveu intensamente as revoluções, contrabandos e aventuras amorosas na fronteira entre Brasil e Argentina na primeira metade do século passado.
Lucas Torres é lembrado como bandido na Argentina, pois foi ele o principal responsável pela organização dos revolucionários da União Cívica Radical, na província de Misiones, que pegou em armas para derrubar o presidente Agustín Justo, em 1933.
O principal episódio das revoluções radicais da Argentina foi o assalto – ou invasão – a Santo Tomé, a partir de São Borja, no final de dezembro de 1933. Essa invasão e arruaças, praticadas em Santo Tomé pelos revolucionários argentinos, são erroneamente atribuídas a Bejo Vargas (irmão de Getúlio Vargas) e seus comparsas de São Borja.
No livro, o autor, Sergio Venturini, relata o histórico da organização dos revolucionários da União Cívica Radical, no nordeste argentino, até chegar ao sangrento episódio de Santo Tomé, e deixa evidente que Bejo Vargas era simpático à ação de Lucas Torres, mas sua contribuição deu-se por motivos pessoais de desforra contra moradores de Santo Tomé. Por isso, liberou soldados do quartel que comandava para, se quisessem, acompanharem os revolucionários radicais argentinos.
Na década de 1940, Lucas Torres se estabeleceu na estância Boa Vista, em São Nicolau, e se dedicou ao contrabando de mulas, farinha de trigo e, principalmente, de pneus, ganhando muito dinheiro e tornando-se conhecido como homem de bem, cavalheiro, solidário com os mais pobres e atencioso com as crianças e com os peões – por isso, ficou com a imagem de bom moço na região missioneira gaúcha.
Lucas Torres fugiu do quartel na Argentina, casou-se com a filha do fazendeiro que lhe deu abrigo no Rio Grande do Sul, contrabandeou armas para os rebeldes da Revolução Municipal de São Luiz Gonzaga (1919) e envolveu-se com os revolucionários de Luís Carlos Prestes. Ele organizou o movimento revolucionário da União Cívica Radical, no nordeste da Argentina (1930-1933), sendo que a maioria das armas foi comprada dos colonos alemães de Cerro Azul (hoje Cerro Largo), que haviam articulado a liga de defesa da colônia, em 1924, para se defenderem de assaltos dos combatentes de Luís Carlos Prestes.
Numa emboscada, em dezembro de 1934, por negócios de fronteira (contrabandos, roubos, mulheres e jogatinas), Lucas Torres teve o corpo perfurado por uma bala de fuzil. Ele morreu pobre, pois, segundo dizia, “um rabo de saia puxa mais do que quatro juntas de bois acolheradas!”.