Em novembro de 1960, Jean-Paul Sartre (1905-1980), um dos mais influentes pensadores do século 20 e no auge da fama, acompanhado de sua mulher, Simone de Beauvoir (1908-1986), passou mais de dois meses no Brasil. Visitando universidades, fazendo palestras e participando de eventos, o casal esteve em Pernambuco, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Brasília e Amazonas. Mas não pôde vir até Porto Alegre. E não foi por falta de interesse dos intelectuais rio-grandenses.
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Segundo o registro deixado pelo jornalista Lauro Schirmer (1928-2009) em seu livro A Hora – Uma Revolução na Imprensa (L&PM, 2000), o convite para a visita oficial do casal de escritores ficou na dependência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que, para isso, reuniu o Conselho Universitário. "Pois, para vergonha da intelligenzia gaúcha – escreveu Schirmer –, a UFRGS se negou a convidar o filósofo francês porque um dos membros mais temidos do Conselho, o respeitável líder católico professor (e depois senador) Armando Câmara, com sua voz tonitruante, sentenciou: 'Se esta rameira (referindo-se a Simone) entrar nesta universidade, eu sairei pela mesma porta para nunca mais aqui voltar'".
O constrangimento foi geral, a imprensa noticiou o fato, mas prevaleceu aquela decisão solitária. Os tempos eram outros e já prenunciava o obscurantismo que viria a se acentuar no país nos anos seguintes.