No último ano da década de 1920, nossa cidade passava por transformações importantes. Logo no primeiro mês, começou a circular o magazine quinzenal Revista do Globo e, também nessa época, foi completada a Avenida Alberto Bins (então chamada de Rua São Rafael), conectando a Praça XV de Novembro à Avenida Cristóvão Colombo, portanto, o Centro ao bairro Floresta.
Houve, ainda, a inauguração do Cinema Rio Branco (na Avenida Protásio Alves) e do novo prédio do Cinema Avenida. O Grêmio Náutico Gaúcho igualmente foi fundado nesse ano. Foi entregue, nesse período, a obra da escadaria e belvedere da Rua João Manoel, ligando a Rua Duque de Caxias com a Fernando Machado.
Nesse contexto, que antecedeu o crack da bolsa de Nova York, foi com surpresa e euforia que um acontecimento chegou ao conhecimento da população naquela manhã de janeiro de 1929, quando a imprensa da Capital publicou com grande destaque que uma jazida de petróleo havia sido descoberta numa rua do bairro Azenha, em Porto Alegre.
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O caso, dizia o jornal, dera-se no entroncamento da Estrada do Mato Grosso (atual Avenida Bento Gonçalves), quando era realizada uma escavação para assentamento da tubulação de cimento destinada ao escoamento de águas pluviais. Como não poderia deixar de ser, o fato causou enorme repercussão, além de provocar uma verdadeira corrida da população ao local. Alguns, inclusive, não tiveram dúvidas em reivindicar para si a exploração de tão rico e inesperado filão.
Tudo indicava que a Capital se transformaria num novo e milionário centro petrolífero, capaz de atrair aventureiros e cobiçosos de toda parte. E, quem sabe (por que não?), poderia assemelhar-se ao Estado do Texas. Era esse o principal assunto nos cafés, restaurantes e rodinhas de conversa da cidade. Em ônibus, caravanas de carros e até de bonde, populares rumavam para o local na esperança de ver jorrar o precioso líquido, enquanto os operários continuavam os trabalhos de escavação para a colocação dos canos.
O denso e oleoso líquido realmente existia, tanto assim que um, mais descrente, ateou fogo a uma parte do material recolhido, fazendo emergir grandes labaredas. Outro dos presentes à demonstração, tomado de entusiasmo, ofereceu à venda sua própria casa para arranjar capital e formar uma empresa petrolífera, que seria, depois, provavelmente, encampada pelo Estado.
A agitação só foi interrompida quando o diretor de obras da municipalidade revelou aos jornalistas que, há algum tempo, houvera um vazamento num dos tanques de óleo e gasolina a cerca de 20 metros do "achado".
Como o subsolo era arenoso – explicou o diretor –, o combustível infiltrou-se no terreno, escoando para o local das escavações. O inflamável, misturado aos sedimentos argilosos, tomara a cor escura, semelhante à do petróleo. Assim, por um dia, Porto Alegre viveu intensamente o sonho de tornar-se um novo Texas.
O "produto" era realmente um derivado do petróleo, a mesma gasolina norte-americana, vendida nos postos por 1 mil réis o litro.
Colaboração do jornalista Sérgio Dillenburg