Numa Revista do Globo de 68 anos atrás, edição 484, de junho de 1949, encontrei uma excelente reportagem de Wilson Machado, com fotos de Flávio Dann, sobre o precoce sucesso de Cândido Norberto (1926-2009), que, aos 25 anos, já era diretor artístico da Rádio Sociedade Gaúcha (PRC-2). Sob o título de "Ser ou não ser", a matéria traça um breve perfil do jovem talento.
De colunista polêmico do jornal Reação, de Bagé, onde nasceu, a radialista "gênio da arte da publicidade", passando pelo Colégio Militar de Porto Alegre e até mesmo por um pequeno período na Escola Militar no Rio de Janeiro. Depois de uma crise shakespeariana (ser ou não ser), o Brasil perdeu um soldado, mas ganhou um notável e inquieto homem do rádio.
Antes dos 30 anos, Cândido já era tratado como "um moço realizado". Vivendo no rádio e do rádio, era, na época, o profissional da área mais bem remunerado do Estado. "Sua voz quente, suave e firme satisfaz os ouvintes de uma partida de futebol, emociona as fãs de radionovelas e conquista o freguês para um anunciante", dizia o repórter.
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Tipo simpático, de estatura mediana, cabelos esticados e bigodinho moderno, o rapazinho magro, entusiasmado e agitado interiormente chegou a Porto Alegre e foi trabalhar como "foca" na Folha da Tarde. Foi setorista do aeroporto, onde chegava de bonde, e, depois de uma caminhada, entrevistou figurões e, de repente, estava ao microfone.
Durante algum tempo, manteve o irreverente programa Pensando em Voz Alta, no qual “suas críticas ferinas sempre acabavam ressoando nos púlpitos e nas delegacias”. A entrada de Cândido na Gaúcha inaugurou uma nova era, levando a emissora ao posto de mais popular do Rio Grande do Sul. Ele trouxe Walter Ferreira e Adroaldo Guerra com o programa de sucesso Corta Tesourinha e ainda contratou o "tonitruante" locutor Rui Figueira, durante muito tempo o Repórter Esso da Rádio Farroupilha. Em seu apartamento, no quinto andar, com vista para o Guaíba, com discos espalhados e livros de sociologia, o entrevistado revelou modestamente: "Não sou um faz-tudo, o trabalho é de equipe".
A bordo de um novinho e flamante Ford, com o receptor de rádio sintonizado invariavelmente na Gaúcha, Cândido Norberto afirmava preferir "em vez de garotas emocionadas, uma bicha de duas quadras entrando numa casa comercial anunciada por ele".
E isso tudo foi só o começo.