O mês de abril, que está terminando, entre tantos feriados é marcado também por duas datas consagradas aos livros. O dia 18, quando nasceu o escritor Monteiro Lobato (1882-1948), assinala o Dia Nacional do Livro Infantil, e o dia 23 é considerado internacionalmente o Dia Mundial do Livro. O dia 23 foi escolhido porque nesta data, no ano de 1616, morreram Miguel de Cervantes e William Shakespeare.
Nossa leitora Carmen Keidann valeu-se das efemérides para sugerir uma justa homenagem a alguém que dedicou praticamente toda a sua vida aos livros e às crianças. Tamine Keidann (1916-2006), sua mãe, foi, por quase três décadas, diretora da Biblioteca Pública Infantil São João, fundada em 1959, cuja sede era, então, na Avenida Presidente Roosevelt. Tamine nasceu em Curitiba e veio para Porto Alegre em 1941, quando se casou com o professor, teólogo e pastor da Igreja Batista Emílio Keidann. Eles tiveram cinco filhos: Eliane (que, como a mãe, fez Biblioteconomia), Daltro (que, como o pai, fez Teologia e é também professor), Tânia (dedicada ao magistério), Carmem (que é médica) e Emílio (que é advogado).
Com a precoce morte do marido, em 1958, Tamine enfrentou uma época dura, com jornada de três turnos. Simultaneamente, ela estudava, trabalhava na Biblioteca São João e também na da Escola Liberato Salzano Vieira da Cunha. "Desistir, nunca" era seu lema. Mesmo depois de aposentada, continuou se dedicando aos livros e a cursos no Galpão da Amizade, iniciativa dela, no Litoral, nos períodos de veraneio. Hoje, o acervo de livros da "bibliotequinha" está na Associação dos Amigos da Cristóvão Colombo (Rua Câncio Gomes, 786), com as dificuldades enfrentadas pela educação e pela cultura no momento atual.
A trajetória da dedicada Tamine me fez recordar o início dos anos 1960, quando eu e minha irmã, Maria Teresa, voraz leitora, frequentávamos a Biblioteca Pública Infantil Central, que funcionava no subsolo da Biblioteca Pública do Estado, com entrada pela Rua General Câmara (Rua da Ladeira). Era um ambiente acolhedor, com mesinhas redondas e estantes com muita literatura infantojuvenil. Fazia-se a inscrição e retirávamos livros por empréstimo com o protocolar preenchimento da ficha sacada do envelope colado na parte interna da última capa. Muitas vezes, desfrutávamos a leitura dos volumes lá mesmo, no silêncio que o local oferecia. Fiquei sabendo agora, pela professora Morgana Marcon, diretora da Biblioteca Pública do Estado do RS, que aquela unidade foi criada em 1954, mas somente inaugurada em 1956. Foi instalada primeiro na Praça Dom Feliciano, até 1959, quando foi transferida para o porão (subsolo) da BPE-RS. Ficou na Biblioteca do Estado de 1959 a 1973, quando foi transferida novamente. Em 1971, recebeu o nome de Lucilia Minssen, em homenagem à sua idealizadora. Foi levada para a Casa de Cultura Mario Quintana no ano de 1990, onde permanece até hoje. Sem os apelos tecnológicos de agora, naquela remota época, para nós, o mundo estava nos livros. Ainda está?
Colaboraram Carmem e Eliane Keidann