Atraídos pelo microfone e pela carreira numa emissora da Capital, com sons e vozes chegando a muitos receptores, não foram poucos os jovens que um dia deixaram suas cidades do Interior – quem sabe em busca da fama – desde quando o rádio ainda engatinhava em nosso Estado. E assim foi seu começo: "Alô, alô, senhores ouvintes da Sociedade Rádio Pelotense, de Pelotas. Tenho o prazer, neste momento, de inaugurar o programa nessa emissora, que é a mais antiga do Rio Grande do Sul, fundada por uma plêiade de cidadãos que tiveram a ideia desse grande empreendimento. E assim vamos procurar, já que não temos, ainda, a prática necessária de um speaker. Mas vamos procurar imitar os portenhos, que são mais antigos que nós no metiê. E assim vamos iniciar o nosso programa musical desta noite de 25 de abril de 1928" – anunciava com emoção o improvisado locutor Alberto Gomes através do prefixo POP, numa histórica gravação da época.
A emissora fora constituída a 6 de junho de 1925 e inaugurada oficialmente a 25 de agosto daquele ano, 92 anos atrás, pelo movimento iniciado por um grupo de comerciantes, como Carlos Sica, Alexandre Gestaud e Antonio Nogueira Filho. O transmissor havia sido construído por Alexandre, incluindo uma série de aparelhos receptores, que seriam alugados por 25 mil réis aos ouvintes, quando surgia a primeira emissora do interior gaúcho.
Coube, no entanto, à Rádio Sociedade Riograndense o surgimento da primeira emissora no RS, conforme registra a seção "Várias" do jornal A Federação, de Porto Alegre, no dia 3 de abril de 1924. Para a implantação, aqui, da radiofonia, a ideia partiu do coronel Juan Ganzo Fernandes, que montara os serviços telefônicos em Bagé e na Capital, apoiado pelo jornalista e telegrafista Décio Coimbra. Em 8 de setembro daquele ano, A Federação divulgava pomposamente a inauguração, reunindo em sua sede autoridades, artistas e público curioso no prédio do antigo jornal, ocupado atualmente pelo Museu da Comunicação Hipólito José da Costa. A nota alertava que, mediante modesta mensalidade, além das notícias, o público teria tudo aquilo que pudesse interessar às famílias. Apesar das dificuldades iniciais, a Rádio Sociedade Riograndense parecia firmar-se cada vez mais, revelando artistas que alcançariam a fama, como Vicente Celestino, Carmem Dora, entre outros. No país, marcado por agitações políticas, encerraria melancolicamente as atividades um ano e meio depois.
Com o tempo e as novas tecnologias, o rádio interiorano, em muitos casos, igualaria as emissoras da metrópole, com estrutura, locutores e programadores. Ser reconhecido como radialista era motivo de orgulho e abria muitas portas para a sociedade. Como relembraria mais tarde Ernani Behs, radioator e dono de uma bela voz, que, ao sair à rua, era assediado por muitas fãs que o abraçavam, beijavam ou pediam autógrafo.
No Grande Hotel, então mais alto e portentoso prédio da Capital, funcionou, inicialmente, a Rádio Sociedade Gaúcha, PRA-Q, "A Voz dos Pampas", que, depois, mudou o prefixo para PRC-2. A inauguração oficial, com o início das transmissões, ocorreu no dia 19 de novembro de 1927.
Após vários encontros entre Carlos Ribeiro de Freitas e Alcides Cunha, e na parte técnica Edison Ganzo e Arthur Hentz, a rádio havia sido constituída em 8 de fevereiro anterior. Durante as festividades, o intendente Otávio Rocha lá compareceu para o grande acontecimento. A potência era de apenas 50 watts. O diretor artístico, Paulo Franco dos Reis, fazia quase o impossível para proporcionar aos poucos ouvintes uma programação razoável, inspirado na música lírica e popular da época, através dos discos de 78 rpm colocados numa vitrola a manivela. Na locução, o time de speakers era constituído por Nero Leal, Antonio Spetzold, Alfredo Pirajá Weiss, Amaro Júnior e Renaux Young. A maioria dos ouvintes, por sua vez, captava aquela salada de sons, entremeada com ruídos de estática, através de galenas, já que os receptores eram caros e escassos, como revelava a imprensa da época. Nesses 90 anos, a serem completados em novembro, a Gaúcha alcançou o reconhecimento público e tornou-se uma das mais importantes emissoras do país. Certa ocasião, no programa Opinião Pública, da Rádio Difusora, o locutor Antonio Carlos Daudt apresentou Maurício Sirotsky Sobrinho (foto) como empresário.
"Desde logo – interrompeu o entrevistado – uma pequena retificação. Ontem, radialista, e hoje, mais radialista do que nunca. Porque de forma nenhuma eu posso fugir das minhas origens. Daquele ponto de partida... Sempre me considerei radialista. De maneira que ser empresário foi um acidente. Eu sempre me considerei radialista". Ao ser perguntado sobre a época do programa de auditório no Cinema Castelo, respondeu que aquela fase foi a mais importante em sua vida."Foi um ponto de partida, foi o trampolim, foi a base, foi a experiência, foi o meio de todas as realizações que conseguimos promover ao longo de nossa atividade. E digo mais: se não houvesse o Programa Maurício Sobrinho, não sei se teria acontecido tudo isso que hoje aconteceu".
Colaborou Sérgio Roberto Dillenburg, jornalista, e primeiro Diretor do Museu de Comunicação Hipólito José da Costa