No último dia 7, publicamos uma nota sobre os primórdios dos serviços postais em nosso Estado, quando os malotes de correspondência ainda eram transportados por carroças. Concluímos perguntando se alguém mais possuía informações sobre essa época. No dia seguinte, o leitor Índio Cândido, professor de gastronomia e consultor de hotelaria e turismo, informou ao Almanaque Gaúcho que a história de sua família é marcada pela trajetória de seu avô Juvêncio Antônio Cândido, motivo de justo orgulho para os descendentes.
Juvêncio nasceu em Candelária, em 1875. Filho de agricultores, cedo já ajudava na roça e, logo na adolescência, nos últimos anos do Império, passou a tropear mulas entre Candelária e Soledade. Sem estradas consolidadas, o trajeto era feito por precárias trilhas reforçadas como caminho a cada ida e vinda. Vieram a Lei Áurea (1888), a Proclamação da República (1889), a primeira Constituição Republicana (1891), a Revolução Federalista, e a vida de Juvêncio mudou quando, numa das viagens, conheceu Laudina Baptista da Rocha, oradora de Lagoão. Casaram-se em 1901.
O jovem casal iniciou a vida em Lagoão, mas, quando os filhos precisaram de escola, mudou-se para Carijinho (hoje município de Sobradinho), que era o sexto distrito de Soledade e possuía mais recursos. Um ano depois de iniciada a I Guerra (1914), nasceu Maria Santa, a sétima filha dos 10 que o casal teve. Apesar dos efeitos da guerra no mundo, a vida de Juvêncio mudou para valer quando, em 29 de março de 1916, ele foi nomeado funcionário público federal por ato da Administração dos Correios do Rio Grande do Sul, como estafeta encarregado do serviço de condução da mala postal entre Candelária e Sobradinho, mediante gratificação mensal de 80 mil réis.
Juvêncio conhecia a região como ninguém. A correspondência seguia com chuva, frio, sol forte ou enchente. Cerro acima, várzea abaixo, campo afora, de lugar em lugar com notícias boas ou ruins. Um envelope com tarja negra advertia antecipadamente um aviso de morte, e Juvêncio fazia sempre uma oração antes de entregá-lo. Quando morreu, em 1922, o Correio, satisfeito com a eficiência do trabalho realizado, nomeou João Antônio Cândido Sobrinho, seu filho, como substituto. Eventualmente ajudado pelos irmãos Adão ou Pedro, ou ainda pelo cunhado Avelino, João Antônio manteve os contratos até 1937. Desde 1992, a antiga RS-400, que liga Candelária a Sobradinho, tem o nome de Juvêncio Antônio Cândido. Nada mais justo, afinal, foi ele que no lombo de mulas, transportando a mala postal, conectou pioneiramente as duas cidades.
Colaborou Índio Cândido