Alguns políticos gaúchos, mais do passado do que do presente, se destacaram na arte de se livrar das intromissões indesejadas.
FLORES DA CUNHA - Na antiga Câmara dos Deputados, no Rio, um representante nordestino aparteia, de forma insistente, o gaúcho Flores da Cunha. Após várias tentativas, sai com esta:– Vossa Excelência foge ao debate, é incoerente. Vossa Excelência dá uma no cravo e outra na ferradura.Resposta imediata e contundente:– Que culpa tenho eu que Vossa Excelência se mexa tanto? Assim não dá para ferrá-lo.
PAULO BROSSARD - O deputado Paulo Brossard fala longamente da tribuna de Assembleia. Porcínio Pinto, da oposição, insiste em pedir um aparte, mas o orador finge não ouvir. Após várias tentativas, o outro perde a paciência e, pegando o microfone, berra: – Como é, Vossa Excelência vai ou não vai me dar uma palavra?– Vou – ordena Brossard: retire-se do meu discurso!
MEM DE SÁ - No início da década de 1950, o deputado Mem de Sá criticava, da tribuna da Assembleia Legislativa, o governo Ernesto Dornelles. Num aparte, a trabalhista Suely Oliveira pede, já que o país estava se adaptando à democracia, que a oposição seja mais tolerante.O maragato, de bate-pronto, retruca:– Enfim, estamos mesmo reduzidos a uma casa de tolerância.
GETÚLIO X JESUS - Na data de aniversário da morte de Getúlio Vargas, na Câmara de Caxias do Sul, o vereador Mário Rosa fala, enaltecendo a figura do ex-presidente. O padre Eugênio Giordani, também vereador, a certa altura, intervém:– Não explorem os mortos. Getúlio é passado. Fazer política é caminhar para o futuro.A resposta vem na hora:– No dia que Vossa Excelência deixar de explorar Jesus Cristo, nós deixaremos de explorar Getúlio.
OUTRA DE FLORES - Durante um comício em Uruguaiana, Flores da Cunha foi saudado por um orador que, a certa altura, começou a exagerar nos elogios:– Bravo general, corpo espartano, cérebro ateniense, coração de pomba, alma de dama...Flores, irritado, chama o chefe político local, interrompendo o discurso, e ordena:– Tira esse demente daqui antes que ele me chame de fresco!
MARX SEM HOMENAGEM – Estava em discussão na Câmara de Porto Alegre um projeto em homenagem ao aniversário do Margs (Museu de Artes do Rio Grande do Sul). O autor, vereador Wilton Araújo, explanava da tribuna a intenção da iniciativa. Ao concluir, destacou:– Por isso, quero homenagear o Margs.O colega Pedro Américo Leal, meio desatento, interveio:– No Karl Marx eu não voto.O orador tentou explicar, mas o aparteante não deixou, repetindo que no Marx, um comunista, não votaria.Até que, enfim, com o plenário aos risos, o proponente conseguiu esclarecer, soletrando a sigla:– Não é Marx, coronel, é Margs: Museu de Artes do Rio Grande do Sul.