A máquina fotográfica Leica que o fotógrafo cubano Alberto Korda (1928-2001) ostenta no pescoço nessas antigas fotografias da época da Revolução de 1959 era a sua câmera preferida. Foi com ela que Korda registrou as principais imagens de Fidel Castro, e dos outros guerrilheiros que tomaram o poder na ilha caribenha, balançando o mundo em plena Guerra Fria. No dia 5 de março de 1960, foi provavelmente através do visor dessa velha Leica que Che Guevara foi visto, enquadrado e imortalizado na famosa foto que é considerada pelos entendidos como "uma espécie de Mona Lisa do século 20".
Neste domingo, dia 9, faz exatos 49 anos que Guevara foi morto, em La Higuera, na Bolívia. Recentemente, a câmera foi colocada em leilão por Dante Diaz Korda, filho do autor da icônica imagem que hoje estampa inúmeros produtos e já virou símbolo da cultura pop. O site Catawiki, que promoveu o remate, estimava que o preço final poderia oscilar entre R$ 18 mil e R$ 30 mil. Recebeu 46 propostas e a Leica de Korda acabou sendo vendida, na última quinta feira, por US$ 20.340, algo como R$ 65 mil. A câmera é uma relíquia que poderia figurar em qualquer museu de fotografia. Conheci Alberto Korda numa viagem que ele fez a Brasília, no final dos anos 1980, quando morei no Distrito Federal. Quando soube que ele estava na cidade, era tarde demais para assistir a uma palestra que o cubano havia feito na Universidade (UNB), mas, acompanhado de um repórter, ainda conseguimos fazer uma entrevista para o jornal O Estado de S. Paulo, na véspera de sua partida. Para poder conversar um pouco mais com essa lenda viva da fotografia, propus levá-lo em meu carro ao aeroporto. Batemos um bom papo até que o serviço de som chamou para o embarque do voo. Ao final da conversa, durante as despedidas, Korda abriu a pasta que carregava e dela sacou uma cópia, feita por ele, do retrato do Che. Colocou sobre o colo e com uma caneta fez uma dedicatória. Quase não acreditei quando, com um sorriso, ele me entregou a foto. Desde, então, ela ocupa lugar de destaque na parede do lugar onde moro. Estive uma segunda vez com Korda, desta feita, acompanhado do repórter Marcelo Rech, numa viagem a Havana. Com a minha câmera, Marcelo fez essa foto do nosso encontro. Korda era um cara simples e simpático. Apesar de ter feito essa imagem histórica, talvez a fotografia mais reproduzida de todos os tempos, não tinha nenhuma afetação. Impossível não me sentir honrado com o que escreveu: "Para Ricardo, com saludos cubanos, Alberto KORDA".