No último sábado (dia 10), foi anunciada a morte de Greta Friedman, aos 92 anos. Ela seria a enfermeira imortalizada numa foto de Alfred Eisenstaedt (1898-1995) para a capa da revista Life, enquanto era beijada pelo marinheiro George Mendonsa, eufórico com o fim da II Guerra, durante as comemorações em Times Square, Nova York. É provável. Mas não vamos esquecer que, desde o dia em que a foto foi obtida, 11 homens e três mulheres declararam ser os protagonistas da famosa e icônica foto do Dia da Vitória. Em 1970, por exemplo, Edith Shain ligou para o fotógrafo dizendo ser ela a enfermeira. Perícias foram feitas para confirmar que Mendonsa é mesmo o cara que aparece na foto.
Outra foto de beijo, feita em 1950, em Paris, por Robert Doisneau (1912-1994), também para a Life, igualmente foi motivo de grande controvérsia. Seria uma cena espontânea? A romântica imagem, conhecida por O Beijo no Hotel de Ville (o prédio que aparece ao fundo na foto), é uma das fotografias mais comercializadas em todos os tempos, como pôster, cartão-postal etc. Quando se fala na ternura de um beijo, é uma das primeiras imagens que vêm à mente de muitas pessoas mundo afora. Depois de muita discussão, ficou-se sabendo que dois atores, Françoise Bornet e Jacques Carteaud, foram contratados para posar para o fotógrafo francês. Eles até ganharam uma cópia da foto autografada pelo autor. Em 2005, aos 75 anos, Françoise levou sua foto a leilão e obteve por ela a cifra de 155 mil euros.
Mais recentemente, no dia 15 de junho de 2011, outra foto de beijo invadiu as redes e repercutiu fortemente em toda a imprensa. Esta foi feita em Vancouver, no Canadá, durante um confronto entre a polícia e torcedores de um time derrotado de hóquei. Na imagem do fotógrafo Richard Lam, um casal, aparentemente alheio a toda a violência ao seu redor, beija-se, deitado no asfalto de uma avenida, como se nada tivesse a ver com o assunto. Horas depois, já sabíamos de todos os detalhes, sem margem para dúvidas. O rapaz se chama Scott Jones, é australiano e mora em Perth. A moça que está com ele é ex-estudante de uma Universidade de Ontário e se chama Alex Thomas. Ela foi derrubada pela polícia, chorava muito e foi protegida e consolada pelo “amigo” que estava com ela. Diante disso tudo, fica muito claro: atualmente, no estágio em que se encontram os meios de comunicação, é muito difícil qualquer fato ficar encoberto pela nebulosidade da distância e do tempo como acontecia antigamente. E isso é muito bom. Por outro lado, talvez estejamos perdendo uma certa ingenuidade romântica que podia atribuir importância a uma imagem não pelo que de fato ela era, mas pelo que ela tinha de subjetivo, e pelo seu poder de sugerir e nos tocar.
Mesmo com os pés cravados na dura verdade, até pelo meu vínculo histórico com o fotojornalismo, sou obrigado, às vezes, a concordar com aquela pichação que li num muro e que dizia: “Chega de realidade, eu quero promessas”. Talvez seja correto e justo ver, naquele marinheiro de Times Square, um agressor sexual, um machista bêbado que submeteu uma desconhecida a uma violência imperdoável, como li recentemente num blog. Até pouco tempo atrás, para mim, ele não era um criminoso, era apenas alguém muito feliz que fazia amor e não a guerra.
Tempo real e triste, este nosso.