Por Gisele Nader Bastos
Gerente Médica do Hospital Moinhos de Vento
Agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, o médico congolês Denis Mukwege coloca em evidência um grave problema de saúde pública: a violência sexual. Conhecido por seu trabalho humanitário realizado contra a violência sexual como arma de guerra, o médico já prestou mais de 85 mil atendimentos e desenvolveu um modelo integral de atendimento às vítimas que envolve apoio psicológico, assistência legal e ajuda econômica. “Não podemos apenas tratar o dedo ou a orelha”, afirma.
De acordo com relatório mundial sobre violência e saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS), devido à natureza da violência sexual, sua ocorrência e impactos são frequentemente ocultos, resultando em uma significativa subestimação do nível real do dano causado.
A melhor representação da magnitude do problema é uma pirâmide. A morte violenta é o resultado mais visível de comportamentos violentos registrados em estatísticas oficiais, mas representa apenas o topo da pirâmide. Em seguida, estão os casos de violência que chegam ao conhecimento de autoridades da área da saúde, cujas vítimas recebem alguma forma de atendimento emergencial, médico-legal ou outros cuidados. A terceira e mais ampla camada na base da pirâmide inclui atos de violência captados em pesquisas de base populacional – atos que talvez nunca sejam relatados a autoridades da área da saúde ou de outras áreas.
Os reflexos da violência e do tratamento inadequado da violência sexual devem ser vistos a curto, médio e longo prazos. Dificuldade de reinserção social, depressão, insônia, consumo elevado de álcool e outras drogas são alguns dos principais prejuízos. Além disso, as vítimas enfrentam mais problemas de saúde, incorrem em gastos significativamente mais altos com atendimento de saúde, comparecem mais vezes aos serviços de saúde para consultas ao longo da vida e registram internações em hospitais mais frequentemente – e de maior duração – do que aquelas que não sofreram violência.
Nesse sentido, políticas sociais e educacionais devem ser priorizadas pelos governos e pela sociedade para reduzirmos os fatores de risco associados à violência. Assim como na África, esse é um tema preocupante no Brasil, que precisa ser visto com atenção pelos governantes. Observamos grande heterogeneidade no atendimento às vítimas de violência sexual. Enquanto alguns serviços de saúde prestam atendimento integral e continuado a essas mulheres, há outros que atendem apenas de forma emergencial, não dando continuidade ao tratamento e nem o devido suporte psicológico.
Trata-se de um problema de saúde pública, que envolve profissionais de todo o sistema de saúde. Nesse sentido, é compromisso dos hospitais de excelência fazer esse debate e contribuir com a pesquisa sobre novas políticas para enfrentar este tipo de situação.
“Traçamos linhas vermelhas contra o uso de armas químicas, biológicas e nucleares. Hoje, devemos traçar uma linha vermelha contra o estupro como arma de guerra”, sentencia Mukwege. Com o objetivo de debater e trazer alternativas sobre este tema para a realidade brasileira, há grande expectativa sobre a vinda de Mukwege ao ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento 2019.
Mais Fronteiras
Depois de Graça Machel, que abriu o Fronteiras do Pensamento 2019 na última segunda-feira (13/5) próximo conferencista do Fronteiras do Pensamento 2019, em Porto Alegre, é o escritor Paul Auster, no dia 17 de junho. Denis Mukwege estará na Capital em 19 de agosto. Completam o elenco desta edição Roger Scruton (1º de julho), Janna Levin (2 de setembro), Werner Herzog (23 de setembro), Contardo Calligaris (21 de outubro) e Luc Ferry (11 de novembro).
Os passaportes para os encontros estão esgotados. Mas há uma lista de espera, que pode ser preenchida em bit.ly/ListaEsperaZH. Outras informações, notícias dos conferencistas e o Programa de Vantagens Fronteiras estão em fronteiras.com. O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre e Hospital Moinhos de Vento, parceria cultural PUCRS, e empresas parceiras Unicred e CMPC. Universidade parceira UFRGS e promoção Grupo RBS.