Moradora de Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, a soldado da Brigada Militar Liliane Silveira Quintana, 35 anos, guardava o sonho de, um dia, viver com a família numa cidade do litoral gaúcho. Nas férias, era na praia do Cassino, em Rio Grande, que ela costumava abrir o mais largo dos sorrisos. Ia para lá ao lado do marido, o também soldado Adalberto de Oliveira, 35 anos, e dos filhos de três e 11 anos (o mais velho, filho de Liliane, de um relacionamento anterior).
Oliveira, que morava e trabalhava em Montenegro, atravessou o Estado para namorar e casar com Liliane. O soldado ainda busca forças para superar a perda da mulher, vítima de infecção generalizada e covid-19,conforme atestado de óbito, em 16 de junho. A morte de Liliane foi relata em GaúchaZH. Oliveira afirma que a mulher não teria morrido em decorrência da covid-19, mas da infecção.
Durante 45 dias, Liliane lutou pela vida depois de sofrer um acidente de trânsito e contrair covid-19 durante a internação. Em 2 de maio, ela e um colega se deslocavam para atender a uma ocorrência de mau súbito — a ambulância do Samu estava em outro local.
No deslocamento, a viatura chocou-se contra um ônibus no bairro Wilson. Os dois policiais se feriram. Liliane, porém, teve os ferimentos mais graves. Hospitalizada em estado grave, seis dias depois foi transferida para o Hospital de Caridade de Santa Maria. A soldado teve a perna direita amputada acima do joelho.
Oliveira conta que Liliane já tinha aceitado a amputação quando apresentou sintomas de covid-19. Em 7 de junho, foi colocada na área destinada aos pacientes com a doença. Oliveira, que esteve ao lado da esposa durante esse período, conta que ela estava confiante na recuperação e fazia videochamadas com os filhos. Na noite de 15 de junho, porém, ela começou a sentir falta de ar e, mesmo com o aumento de oxigênio, já não conseguia mais respirar. Imediatamente, foi levada de volta para a UTI e intubada. No dia seguinte, ela faleceu.
— Foi tudo muito rápido. Ela estava se recuperando e, da noite para o dia, a perdemos — recorda o viúvo, que acabou contraindo covid-19 e está no final da quarentena.
Na Brigada Militar desde 2007, Liliane foi a primeira policial da corporação a morrer em decorrência do coronavírus. A prefeitura de Santana do Livramento decretou luto oficial por três dias e divulgou nota lamentando o óbito.
Adepta da umbanda, Liliane gostava de cumprir todas as suas obrigações com a religião, como relata Oliveira. Casados havia cinco anos, depois de uma paixão fulminante que os uniu em cinco meses de relacionamento, Liliane e o marido já planejavam a aposentadoria. Oliveira afirma que, em homenagem à mulher, manterá o desejo do casal de morar na praia, mesmo que leve os próximos 20 anos, tempo ainda necessário para encerrar a carreira como soldado.