Para uma cidade pequena, Garibaldi, na serra gaúcha, está com um índice alto de vítimas da covid-19. São três mortos até agora pela doença, no município serrano – contra uma morte em Caxias do Sul, por exemplo, município próximo e que tem população 15 vezes maior.
Uma das vítimas fatais foi o aposentado Isaías Bogado Pinheiro, 63 anos, que atuou ao longo da vida como metalúrgico e vigilante. Ele morreu no dia 3, após período prolongado de hospitalização.
O primeiro sintoma, um resfriado, apareceu quando ele estava trabalhando na obra de um irmão, o vereador Moisés Nekel, 43 anos. Foi na Sexta-Feira Santa, 10 de abril.
— O clima estava bem quente, o Isaías tomou muita água gelada, achou que era um resfriado comum. Continuou com febre nos dias seguintes, apesar dos antitérmicos. Aí o levamos a um posto de saúde na segunda-feira pós-Páscoa. Sugeriram internação no hospital local, já com suspeita que pudesse ser coronavírus — descreve Moisés.
Como Isaías manifestava falta de ar, ficou no Centro de Tratamento Intensivo (CTI). O quadro se agravou e ele foi transferido para o Hospital Universitário de Canoas, na Grande Porto Alegre, onde havia vaga.
Pela falta de ar, Isaías foi entubado e sedado. Foram 17 dias de hospitalização, isolado, afastado dos familiares. Moisés diz que uma esperança surgiu no 14º dia, quando o boletim médico indicou melhora, com possibilidade até que Isaías saísse da UTI dentro de algum tempo.
— Nos animamos, mas durou pouco. No dia 3 nos ligaram, informando do falecimento dele — lamenta Moisés.
Não foi por falta de cuidado, diz irmão
Isaías era natural de Três Passos e o primeiro dos irmãos a se mudar para Garibaldi, 30 anos atrás. Moisés veio 10 anos depois. Ambos atuaram como vigilantes.
Moisés assegura que, em Garibaldi, a maioria das pessoas circula de máscara. Ele acredita que não foi por falta de cuidado que o irmão adoeceu. Aliás, não só Isaías ficou doente. O vereador e a esposa dele também manifestaram sintomas da covid-19: muita dor de cabeça, dores em todo o corpo, náuseas. Ficaram em isolamento domiciliar e já se recuperaram. Ele diz não ter ideia de como contraíram o vírus.
— Como líder comunitário, gostaria que a população não encarasse o vírus como brincadeira, porque amanhã podem estar passando pela mesma situação que minha família — desabafa Moisés, que ainda sente fraqueza derivada da doença.
Moisés ressalta que Isaías não tinha qualquer doença e não era fumante. Ele jamais tinha ficado hospitalizado, diz o vereador.
Isaías deixou a esposa, Noemi Pinheiro, e os filhos Leandro e Clóvis, do primeiro casamento.