Entre os dias 30 de abril e 7 de maio, a ocupação de leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI ) por pacientes com covid-19 cresceu 26% no interior do Rio Grande do Sul. O avanço é menor que o registrado na semana anterior mas mostra que a pressão sobre os leitos intensivos segue aumentando. São 76 pacientes em UTIs em 18 cidades, há sete dias eram 60 pacientes em 14 cidades.
Os dados da Secretaria Estadual da Saúde também revelam que a sobrecarga nas UTIs avança independente do coronavírus, o que desafia ainda mais gestores públicos. Onúmero de cidades em que taxa geral de lotação ultrapassa os 90% mais que triplicou no período, passou de seis para 18: Tenente Portela (90%), Três Passos (90%), Três de Maio (100%), Carazinho (100%), Vacaria (90%), Bento Gonçalves (90%), Venâncio Aires (100%), Montenegro (94,7%), Gramado (90%), Gravataí (90%), Sapucaia do Sul (100%), Campo Bom (90%), Sapiranga (100%), São Gabriel (91,7%), São Leopoldo (90%) e Viamão (93.3%). Tramandaí e Torres, no Litoral Norte, estão operando além da capacidade, com 110% e 120% da ocupação respectivamente. Pacientes com coronavírus ocupam 7,2% dos 1.046 leitos do Interior. A taxa de ocupação total é de 73,2%.
Passo Fundo, Lajeado, e, agora também, Bento Gonçalves são as três cidades com maior número de internação em UTI por covid-19. Na cidade do Norte do RS, já são pelo menos 20 casos graves. Nesta semana, o município se igualou a Capital no número de mortes: são 17 óbitos para 240 casos confirmados. A secretária de Saúde da cidade, Carla Gonçalves, explica que os leitos de alta complexidade recebem pacientes dos municípios da 6ª Coordenadoria Regional de Saúde e podem acolher também de outras regiões, de acordo com o encaminhamento da central de regulação do Estado. Há poucos dias, Passo Fundo teve habilitação de 13 novos leitos de UTI, o que trouxe algum fôlego para os hospitais. A taxa geral de ocupação dos leitos intensivos na cidade é de 81,7%.
Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF) e coordenador do serviço de infecção do Hospital São de Vicente de Paulo, Gilberto Barbosa estima que a cidade ainda terá aumento de casos por um período de 30 a 45 dias. Ainda que registre a maior quantidade de pacientes graves no Interior, Passo Fundo ainda está, no entendimento de Barbosa, em uma situação confortável no que diz respeito a ocupação das UTIs, especialmente por ter ganhado 13 novos leitos recentemente.
A respeito da sobrecarga, cada vez maior em leitos intensivos por casos não relacionados ao coronavírus, o médico lembra que historicamente isso é observado no Rio Grande do Sul a partir da primeira semana de maio, quando há crescimento de pacientes com H1N1 e agravamento de doenças pulmonares devido ao avanço das baixas temperaturas.
— A covid-19 é uma doença que se caracteriza pela indução de inflamação que, em casos graves, diminui a oxigenação. Isso pode complicar doenças neurológicas e cardiovasculares pré-existentes, não só na fase aguda, mas também na fase de recuperação — explica Barbosa.
Em Bento, foco é monitorar contaminados
Em Bento Gonçalves, na Serra, o número de pacientes internados cresceu de sete para 11 em uma semana. O secretário de Saúde, Diogo Seganinazzi Siqueira, explica que o aumento era esperado devido ao investimento em testagem e o acréscimo de novos casos. Segundo a SES, são 94 contaminados na cidade. Na contagem paralela do município, os infectados chegam a 180.
Atualmente, Bento tem 40 leitos clínicos que podem ser adaptados para UTI e aguarda liberação de outros cinco. Para conter os casos graves, o foco da cidade é controlar a movimentação daqueles que testaram positivo. Seguindo parâmetros da Coreia do Sul, o município está testando qualquer pessoa que tenha três sintomas de coronavírus. Com este critério, mais de 800 testes já foram aplicados.
— Isso facilita a tomada de decisão e faz a população entender a seriedade da doença. Hoje temos uma lista de 600 suspeitos que serão testados nos próximos dias e muitos deles estarão contaminados. Eles são monitorados por telefone todos os dias por profissionais de saúde que estão em casa, por serem do grupo de risco — explica o secretário.
Após receber denúncias de pacientes com teste positivo que estavam nas ruas, a secretaria passou, nesta semana, a fazer visitas aleatórias a quem tem a doença.
— Estamos passando na casa dessas pessoas, para ver se realmente estão em casa. Essa pessoa precisa respeitar o isolamento pois não está colocando só a vida dela em risco — frisa.
Estratégia de Canoas é evitar avanço de novos casos
Em Canoas, na Região Metropolitana, a estratégia do prefeito Luiz Carlos Busato é conter o número de contaminados para não sobrecarregar as UTIs. Na última semana, os casos graves caíram pela metade: eram seis, agora são três. Para enfrentar a pandemia, foram abertos quatro hospitais de campanha com 938 leitos, dos quais 53 são de UTI. Canoas também é referência hospitalar para 156 municípios do RS.
Com 346 mil habitantes, a cidade vizinha a Capital tem 35 casos, duas mortes e uma incidência de 10 casos para cada 100 mil habitantes. A média do Rio Grande do Sul é de 19,5 casos para cada 100 mil gaúchos. Segundo o prefeito, quase 50 mil idosos foram vacinados contra H1N1 em casa. A aplicação à domicílio seguirá para gestantes, mães de bebês recém nascidos, crianças de seis meses a seis anos, doentes crônicos e deficientes físicos.
A cidade também foi uma das primeiras a tornar obrigatório uso de máscaras no transporte coletivo. Nos supermercados é medida a temperatura e só permite a entrada com a proteção no rosto. O mesmo vale para o comércio.
— Houve uma adesão muito boa ao uso de máscara. E a fiscalização nos bairros é intensa. A população é um organismo vivo e, se necessário, vamos avançar ou recuar nas medidas de restrição — avisa o prefeito.