O baque da pandemia aos poucos começa a dar espaço a uma nova normalidade. Nas ruas, as faces são encobertas por máscaras, mas os olhos das pessoas já passeiam por vitrines de lojas, padarias e restaurantes. O município de Rolante, no Vale do Paranhana, tem cerca de 20 mil habitantes, e com a implementação da bandeira amarela pelo governo do Estado — de risco baixo em função do coronavírus — está reabrindo estabelecimentos.
Os cinco casos de covid-19 confirmados da doença na comunidade ainda preocupam, pois uma família acabou infectada, mas a rotina de retomada, com desemprego e compras tímidas também incomodam.
Por ser uma cidade com forte ligação com o setor calçadista, não é muito difícil circular por Rolante e encontrar pessoas da área que perderam o emprego. Na fila de uma lotérica na quarta-feira (13), Lisiane dos Reis, 34 anos, preparava-se para pagar contas após receber uma parcela do seguro desemprego.
— Faz um mês que perdi o emprego. Acho que vai ser difícil pra todo mundo aqui no Rolante. Não tem muita opção aqui — lamentou.
Segundo a prefeitura, o setor calçadista empregava formalmente até o início da pandemia cerca de 3,8 mil pessoas no município. Entretanto, ao menos 580 trabalhadores foram demitidos. Ainda não há uma estimativa do quanto do Produto Interno Bruto (PIB) local será afetado. Na unidade de uma fábrica de calçados da região, de 300 trabalhadores, 50 foram demitidos.
Na avenida principal, a Coronel João Linck, a chuva da última quarta-feira não impediu pedestres de saírem às ruas. Lojas de roupas estavam recebendo clientes, mas com restrições para acesso. Em uma delas, com uma entrada grande, uma fita de advertência amarela e preta foi colocada impedindo o acesso.
Em cada um dos estabelecimentos, havia um cartaz na porta informando sobre a obrigatoriedade do uso de máscara. Para possíveis clientes sem a proteção, algumas lojas forneciam a um custo de R$ 3 a máscara.
— Aos poucos, vai voltando. Pelo menos está aberto — comentava uma vendedora com uma cliente.
A Acisa, entidade que representa a indústria e o comércio da cidade, avalia que o fechamento das lojas, em abril, gerou transtorno aos comerciantes. Nos restaurantes, a rotina já não é mais a mesma. Buffet está sendo trocado por cardápios a la carte em razão do decreto estadual. Na calçada, olhando pelo vidro o interior de um restaurante, era possível ver mesas espaçadas, em um salão mais vazio do que outrora.
Um toque de recolher permite que os espaços funcionem até as 21h. Uma lancheria reduziu em 50% os oito funcionários. O espaço ficou cerca de 20 dias atendendo somente em regime de telentrega, o que prejudicou em 40% o faturamento, segundo a gerência.
— Esse formato faz a gente perder a segunda venda, algo que o pessoal consumiria na loja. A telentrega te limita — diz Josué Dutra, gerente da lancheria.
Rolante é conhecida como a capital nacional das cucas. E o espaço que celebra anualmente o prato típico agora serve como base de triagem para novos casos da covid-19. Logo nos primeiros dias da pandemia, a estrutura do Parque das Cucas começou a ser usada como uma unidade de saúde.
— Passa na triagem pela enfermeira, mede a temperatura, a saturação. Depois, o paciente é encaminhado para mim. Se precisar, a gente faz um teste rápido aqui mesmo, ou uma coleta de material para encaminhar para análise — descreve a médica Taíse Torres, que atua no local.
Um acordo firmado entre a prefeitura de Rolante e a Feevale permite que o município não seja assistido para testes rápidos somente pelo Laboratório Central do Estado (Lacen). Conforme o reitor da Feevale, Cleber Prodanov, o objetivo é “auxiliar os municípios da região da melhor forma possível no combate à doença”.
Os impactos do coronavírus na cidade
- Lojas podem abrir com 50% dos funcionários e da capacidade de clientes, além de restrições para acesso aos estabelecimentos. Em alguns casos, clientes precisam fazer fila e aguardar do lado de fora
- Apesar das fábricas de calçados terem voltado a funcionar com a totalidade dos funcionários, a crise de coronavírus impactou os estabelecimentos da região. Um total de 580 trabalhadores dos 3,8 mil com carteira assinada no setor foram afetados
- Os restaurantes podem operar com capacidade reduzida. O serviço de buffet está proibido e os estabelecimentos estão se adequando, principalmente alterando o cardápio
- O parque onde ocorre a Kuchenfest (Festa da Cuca) de Rolante foi cedido à saúde pública, tornando-se um centro de triagem