O coronavírus chega, em média, a cinco novas cidades gaúchas a cada dia. Uma análise do avanço da pandemia nas últimas duas semanas mostra que o número de municípios afetados saltou de 129 para 203 nesse período.
Os dados disponíveis até o final da manhã desta terça-feira (12) indicam ainda que, nos locais onde a covid-19 já se instalou, a velocidade de contaminação é maior em um grupo de 28 cidades onde a proliferação de novos casos supera 100% desde o final de abril.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) informou que não dispõe da evolução diária no número de casos para cada município gaúcho. Para realizar esse levantamento, GaúchaZH comparou o dado mais recente disponível até o meio-dia de terça com o retrato que a página de monitoramento da SES indicava duas semanas antes, em 28 de abril.
Para reduzir a distorção matemática, foram consideradas apenas as cidades com pelo menos 10 pacientes confirmados (já que, onde há poucos casos, qualquer novo teste positivo resulta em um percentual de variação elevado).
Por esse critério, Santa Cruz do Sul (onde foi registrado um surto em uma clínica geriátrica) aparece com o maior salto proporcional — embora o percentual ainda assuste mais do que o número absoluto de notificações. Havia apenas um registro há duas semanas e agora são 22, o que resulta em um acréscimo de 2.100%. Também chama a atenção o caso de Três Passos, que não contabilizava doentes e chegou a 33 entre uma população de 23,9 mil pessoas. Passou a ocupar a 17ª posição no ranking estadual de notificações.
Analisados em conjunto, os locais em que o coronavírus avança com mais rapidez no Estado são cidades de porte médio do Interior. Cerca de 60% daquelas que tiveram mais do que o dobro de aumento apresentam menos de 50 mil moradores. O Vale do Taquari é a locomotiva que puxa esse crescimento, respondendo por oito dos 28 municípios do grupo. Nessa região, depois de Lajeado, com 194 casos, aparece Arroio do Meio, que tem apenas 20 mil habitantes, mas viu o vírus se espalhar 550% e atingir 39 moradores em duas semanas (10º lugar no Estado).
Em seguida, aparecem cidades da Serra como Bento Gonçalves, Garibaldi e Farroupilha. Já entre os locais (com pelo menos 10 notificações) que vêm apresentando crescimento mais lento estão Bagé, com avanço de apenas 6,9%, e Porto Alegre, onde o número de pacientes cresceu 23% em duas semanas.
Em relação ao número de mortes, Passo Fundo apresentou o cenário mais preocupante no período, com sete novos óbitos. Lajeado aparece em seguida com seis novos mortos. Na Capital, foram quatro no mesmo intervalo.
O infectologista do Hospital Mãe de Deus Gabriel Narvaez lembra que é preciso sempre levar em conta a capacidade de testagem de cada local, o que pode influenciar nas notificações. Em relação ao que as estatísticas demonstram, Narvaez afirma que estão de acordo duas características típicas de pandemias como a do coronavírus: a interiorização e a pauperização.
— Os vírus chegam de avião nos maiores centros urbanos, nas classes com maior poder aquisitivo, e lentamente se espalham para o resto da população em cidades menores e entre pessoas de menor condição econômica — analisa o especialista.
O infectologista alerta ainda para o fato de que, em cidades com um número não tão expressivo de casos, situações pontuais, como um surto em uma determinada empresa ou lar de idosos pode levar a um crescimento rápido, mas temporário, de novos pacientes.
Conforme o balanço mais recente da SES, com dados desta terça-feira, o Rio Grande do Sul tem 2.917 casos confirmados de coronavírus e 111 mortes devido à covid-19. Mais de 1,6 mil pessoas se recuperaram da doença no Estado.