O prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, afirmou que as imagens que mostram pessoas entrando no Neumarkt Shopping, no município, são tristes e preocupantes. As cenas foram registradas nesta quarta-feira (22), e ocorreram depois que o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés (PSL), permitiu a reabertura dos shoppings no Estado — o estabelecimento estava fechado havia cerca de um mês devido à pandemia do coronavírus.
Nas imagens, é possível ver adultos, crianças e idosos sendo recebidos ao som de um saxofonista e palmas dos lojistas ao entrarem no local. Vídeos da cena foram compartilhados nas redes sociais e renderam críticas.
— Infelizmente, essa imagem é muito triste de se ver, pelo que representa, pela aglomeração, e talvez pela falta de cuidado para com a vida. Eu sempre tenho dito, em todos os momentos, que o bem mais precioso é a vida. A atividade econômica é importante, é fundamental. Nós, enquanto prefeitos, sofremos com a baixa atividade econômica, porque temos que continuar atendendo a população, pagando salários. Mas, se tem algo que não volta atrás, é a vida das pessoas — disse.
— Me parece que algumas pessoas só vão reconhecer isso se tiverem um caso da doença na família. É, de fato, preocupante, especialmente pelo grande número de idosos que vimos nas imagens — completou.
Apesar de permitir a reabertura de shoppings, a portaria catarinense proíbe "shows, apresentações e similares, que possam gerar aglomeração de pessoas" nos estabelecimentos comerciais.
Conforme Hildebrandt, quem define a liberação das atividades comerciais em SC é o governo do Estado. O prefeito disse ainda que, durante a pandemia, o governo estadual não tem dialogado com os prefeitos catarineses.
A prefeitura afirma que vem orientando, em suas redes sociais, que pessoas que integram o grupo de risco, como idosos, devem ficar em casa.
Conforme o prefeito, a aglomeração teria ocorrido apenas na entrada das pessoas no estabelecimento. Depois , o grupo se dissipou pelo local. Essa aglomeração, na visão de Hildebrandt, "não deveria ter acontecido" e a administração deveria ter tomado um cuidado maior.
No entanto, a gerente de uma loja do local, que preferiu não se identificar para evitar represálias, afirma que o movimento está "normal".
— Por tudo o que está acontecendo com a covid-19, é um movimento parecido com o normal. Mas na loja propriamente dita não está bom, não se reflete em vendas — relatou.
Funcionários dizem que foram chamados para a ação
Trabalhadores de diferentes lojas relataram à reportagem que foram chamados pelo shopping para participar das palmas para a reabertura e se sentiram desconfortáveis com a iniciativa. Procurada, a administração do shopping disse ter tomado os devidos cuidados sanitários.
"Reabrimos nossos shoppings aplaudindo as pessoas no horário da abertura. Foi uma forma carinhosa de demonstrar o respeito que temos pelos nossos clientes", afirmou o shopping, por meio de sua assessoria de imprensa.
De acordo com o estabelecimento, um produto importado dos Estados Unidos que "elimina até 99,99% dos micro-organismos" foi aplicado nos ambientes frequentados pelos consumidores. No primeiro dia de retorno as atividades, segundo a assessoria, o movimento "esteve 100% dentro dos padrões estabelecidos".
Nem todo mundo gostou da ação.
— Não bati palma. Não é o momento de bater palma para cliente. Estamos no meio de uma pandemia — opinou uma vendedora, que preferiu não se identificar.
— Estamos em risco. Preferia que as pessoas que viessem fossem por necessidade, para comprar e não para passear. Parecem cansados de ficar em casa e vieram passear. Eu só saio de casa se preciso — disse outra funcionária.
A percepção de que o movimento era por "passeio" e não por compras é compartilhada por outra vendedora.
— Ao entrar no carro que chamei por aplicativo, fiquei bastante impactada. O motorista era de grupo de risco, estava sem máscara e me falou que Blumenau não sobrevive sem shopping. Ele disse que contava os minutos para ir ao shopping.
Santa Catarina tem 1.091 casos confirmados e 37 mortes por covid-19, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com a prefeitura de Blumenau, são 98 pacientes com a doença na cidade.