Inspirada em países que adotaram a testagem em massa da população, a prefeitura de Esteio, na Região Metropolitana, decidiu fazer exames de detecção do coronavírus em todos os moradores com sintomas de síndrome gripal — e não apenas em pacientes internados e profissionais da saúde. A medida é resultado de convênios firmados com duas universidades (Unisinos e Feevale) e um laboratório privado, e está sendo viabilizada com a ajuda de empresários locais.
No momento, o município de 80 mil habitantes está preparado para fazer cerca de 5 mil diagnósticos, que contam, também, com a parceria do Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (Lacen). Conforme o prefeito Leonardo Pascoal, já foram comprados em torno de 3 mil testes moleculares e 2 mil rápidos, que ainda terão o reforço pelo menos de mais 210, enviados pelo governo estadual.
Se for necessário, Pascoal afirma que os números serão ampliados. Ele destaca a importância da ajuda de empreendedores da região, que doaram R$ 53,4 mil à administração municipal para o combate à pandemia.
— Os empresários juntaram o recurso e nos procuraram para saber qual seria a melhor destinação. O dinheiro ajudou na aquisição dos testes. Na nossa estratégia de enfrentamento à doença, uma das prioridades é a testagem em massa, com base em resultados obtidos por países como a Coreia do Sul e a Alemanha — explica Pascoal.
De acordo com o gestor, cerca de cem pessoas já passaram por exames no município, que, até a manhã desta quinta-feira (9), contabilizava dois casos confirmados de covid-19. Pacientes internados seguem sendo diagnosticados no hospital. Os demais casos suspeitos estão recebendo as equipes em casa — outra decisão tomada pela prefeitura para atenuar riscos.
Os contatos são feitos, inicialmente, por meio de um telefone disponibilizado à população, chamado de Tele-coronavírus (51 3459-4723).
— É realizada uma entrevista e agendada a coleta, em geral, para o dia seguinte. Tudo isso é muito importante, porque ajuda na conscientização das pessoas e fornece evidências científicas. Não há espaço para achismo ou embate político. A nós, gestores, cabe um papel de prudência — reforça o prefeito.
Conforme a secretária municipal da Saúde, Ana Boll, servidores municipais estão fazendo o acompanhamento dos casos de perto. Ela afirma que esse controle irá auxiliar no planejamento de ações daqui para frente.
— A ideia é ir mapeando a cidade e agindo preventivamente, evitando que as pessoas evoluam para quadros mais graves — ressalta Ana, que é enfermeira concursada do município.
Professor titular de Doenças Infecciosas da UFRGS e infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Luciano Goldani aprova a iniciativa, que é diferente da adotada na maioria dos municípios brasileiros. Por dificuldades financeiras ou falta de insumos, praticamente todos, inclusive no Rio Grande do Sul, seguem a orientação do Ministério da Saúde e priorizam a testagem em pessoas internadas e naqueles que atuam na linha de frente, como médicos e enfermeiros.
— Quanto maior a testagem, melhor o conhecimento da doença no nosso meio. Esse é o caminho — ressalta Goldani.