Porto Alegre tinha, até terça-feira (7), 17,3 casos de coronavírus confirmados para cada 100 mil habitantes. O número, divulgado em uma coletiva de imprensa do Ministério da Saúde, é o quinto maior do país, atrás de Fortaleza (34,7), São Paulo (30,6), Manaus (21,7) e Florianópolis (18,8).
Para especialistas, no entanto, o dado diz pouco sobre a real situação da capital gaúcha e, por si só, não é motivo para preocupação. Isso porque a lista do Ministério da Saúde apresenta um número geral, sem recorte de tempo, e não leva em consideração o número de testagens realizadas em cada cidade.
Ou seja, ignora que cada lugar começou a registrar casos em um período diferente — capitais nas quais a doença chegou mais tarde tendem a ter menos confirmados — e que a capacidade de testagem também muda de um lugar para outro. Porto Alegre poderia apresentar uma incidência alta simplesmente porque realizou mais testes, por exemplo.
— Se a letalidade é baixa, o mais provável é que a alta incidência esteja relacionada à notificação de casos mais brandos. Esse não é um dado preocupante se o sistema está conseguindo dar conta dos atendimentos — diz o professor de epidemiologia da UFRGS Jair Ferreira.
No Rio Grande do Sul, a taxa de letalidade, que representa o número de óbitos sobre o total da população, está em 1,6%. O número é quase três vezes menor do que a média nacional, de 5%. A ocupação dos leitos destinados ao tratamento da doença na Capital está abaixo do esperado. Segundo o presidente do Grupo Hospitalar Conceição, André Cecchini, até esta quarta-feira, o Hospital Conceição operava com apenas 20% da capacidade. Apesar disso, ele ressalta que é importante ter estrutura para lidar com o pico dos casos, que pode ocorrer nas próximas semanas.
— Nesse momento, de tudo o que é apresentado, não se tem elementos para dizer para onde vai. O sistema está com baixa procura, mas está se preparando para o pior cenário. Tomara que daqui a três meses a gente esteja enganado. O que não dá é para a situação se agravar sem estar preparado — diz.
Para o presidente do Cremers, Eduardo Neubarth Trindade, o fato de o sistema estar com pouca ocupação sinaliza que as medidas de isolamento e distanciamento social foram adotadas no tempo certo.
— Parece que as medidas, até agora, estão sendo acertadas. O que está acontecendo é uma progressão relativamente controlada, mas isso não quer dizer que devemos baixar a guarda. A vigilância deve ser constante — alerta.
Conforme um estudo realizado com base na evolução no número de casos registrados na Capital antes e depois da imposição das restrições de circulação, as medidas de distanciamento social podem ter evitado que 2,1 mil pessoas tivessem de ser internadas até o começo de abril.
Até a tarde esta quarta-feira, a Capital soma seis mortes por coronavírus. Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, dos 555 pacientes com covid-19 detectados no estado, 272 estão em Porto Alegre.
Procurada por GaúchaZH, a prefeitura não se manifestou sobre os números até a publicação da reportagem.