Tornou-se comum, nos últimos dias, ver pessoas circulando pela rua usando máscaras cirúrgicas — ou adaptações dela, algumas das quais viraram memes de internet. O acessório ficou tão popular que esgotou em diversas farmácias e fornecedores, muitas vezes adquirido por pessoas sem sintomas que querem se proteger contra o coronavírus. Segundo especialistas, no entanto, a tática pode ser um tiro no pé.
— Pessoas que usarem máscaras vão aumentar o risco de se contaminarem e de não se protegerem. A preocupação é fazer a higiene de mãos e não tocar o rosto. Quem usa máscara acaba relaxando nesses cuidados e se contaminando mais, porque fica ajeitando a máscara para cima e para baixo, aumentando o contato com o nariz, os olhos e a boca — explica Claudio Stadnik, infectologista da Santa Casa de Misericórdia.
Profissionais de saúde, únicas pessoas sem sintomas a quem o uso é recomendado, são treinados para utilizar o acessório, e só fazem isso quando vão atender diretamente pacientes infectados, por um curto espaço de tempo — nos hospitais, o produto é descartado após a utilização. Stadnik atenta, ainda, para o fato de que as máscaras de proteção perdem a eficácia quando ficam úmidas, o que, somente com o vapor produzido pela respiração, acontece a partir de 30 minutos de uso. Ou seja, para que a suposta barreira fosse efetiva contra o vírus, o usuário teria de trocar de máscara o tempo todo, algo inviável.
As máscaras caseiras, cujos tutoriais se multiplicaram na internet na última semana, também podem prejudicar mais do que ajudar na prevenção ao coronavírus. Doutor em virologia, Eduardo Furtado Flores, diz que não há comprovação de que materiais como filtros de papel sejam eficazes para conter as moléculas do vírus.
— Mesmo um tecido, se for muito poroso, pode não conseguir reter essas moléculas. E a máscara protege contra aerossóis (moléculas que ficam no ar), mas a maior parte das infecções não é por aerossóis, e sim pelo contato com superfícies infectadas — destaca.
Na terça-feira, o secretário-executivo do ministério da Saúde, João Gabbardo, disse que máscaras de pano feitas em casa podem ser uma opção para pessoas isoladas e com sintomas que não tenham acesso ao produto descartável. Segundo Gabbardo, elas servem como barreira física para evitar que infectados dispersem o vírus no ambiente, e, após lavadas, podem ser reutilizadas — o secretário desaconselha o uso desse tipo de produto pelos profissionais da saúde.
Em qualquer hipótese, o acessório só deve ser utilizado por quem apresenta sintomas e por quem lida diretamente com essas pessoas. A procura e o uso por quem não se enquadra nesses grupos, além de pouco eficaz, pode fazer com que faltem máscaras para quem realmente precisa.