Sensibilizados com o medo que atinge boa parte da população – medo que talvez seja menor pelo contágio do vírus e maior pelo desemprego, pela queda na renda ou pela dificuldade de comer –, moradores e comerciantes se articulam em uma série de ações solidárias na capital gaúcha.
– Os R$ 200 que o governo vai dar são muito pouco para quem precisa comprar fralda, remédio, comida – diz a comerciante Daiana Dias, 37 anos, citando o auxílio mensal anunciado pelo governo Bolsonaro.
Daiana abriu uma vaquinha online (acesse neste link) para ajudar diaristas, autônomos e trabalhadores informais que vivem na Vila Brasília, no Sarandi, e já estão desesperados com a falta de trabalho.
– Quando eu era criança, meu pai era pedreiro e minha mãe, do lar. Se essa pandemia fosse naquela época, não teríamos nenhuma renda, seria um horror – conta Daiana.
40 marmitas por dia
Colocar-se no lugar do outro é o que propõe também Jean Vieira, 29 anos, sócio do El Divino & Lounge, restaurante no Morro Santana que tem doado 40 marmitas por dia. Ele diz que deve prolongar a iniciativa até quando for possível:
– Vamos até onde o braço alcançar. Boa parte dos nossos clientes é profissional liberal, são pessoas que tiveram todas as atividades canceladas. Imagina o medo que eles sentem.
Higiene para quem mora na rua
Esse medo, segundo a decoradora Letícia Andrade, nunca esteve tão presente no rosto da população que ela costuma ajudar. Vice-presidente da ONG Centro Social de Rua, Letícia costuma organizar o Banho Solidário – um projeto que leva cabines equipadas com ducha e água quente aos moradores de rua.
Depois que a ação foi suspensa para evitar aglomerações, ela e outros voluntários passaram a oferecer sabonete, pasta de dente, água mineral, lanches e dicas de prevenção contra o coronavírus.
– Estamos usando máscaras e álcool gel para não pegar o vírus, mas não podemos abandoná-los quando mais precisam. Nunca vi eles sentirem fome como sentem agora – afirma Letícia, lembrando que os comerciantes que costumavam doar alimentos agora estão fechados.
Prioridade ao mercadinho
Comerciantes, aliás, também vivem maus bocados. A arquiteta Laura Azeredo, 32 anos, moradora do Bom Fim, decidiu mapear os pequenos comércios de Porto Alegre – o esquema está neste link. Segundo ela, a intenção é reduzir o impacto econômico nesses estabelecimentos e evitar multidões nos grandes supermercados.
– Em dois meses podemos sair na rua e não encontrar mais aquele lugar que gostávamos tanto, simplesmente porque ele não resistiu.
No que depender de pessoas como essas, todo mundo vai acabar resistindo.
Sai o pão, entra a quarentena
Após distribuir mais de 500 pães em três dias, levando comoção às redes sociais, o bar Justo – situado na escadaria do viaduto da Borges – interrompeu a ação solidária que alimentou uma centena de pessoas. Os sócios decidiram orientar os funcionários a ficarem em casa.
– Nossa equipe se emocionou muito: alguns choravam quando as pessoas pediam pão. Fizemos o possível para ajudar a comunidade – avalia Adelino Bilhalva, 37 anos, que achou melhor garantir a quarentena de todos.
Conhece outra ação solidária em Porto Alegre? Escreva para paulo.germano@zerohora.com.br e rossana.ruschel@zerohora.com.br.