Com o anúncio do Canadá, nesta segunda-feira (22), de limitar por dois anos o número de estudantes estrangeiros que poderão entrar no país, as permissões para cursos de graduação e bacharelado internacional deverão ter um corte de cerca de 35%. Em meio a uma crise imobiliária, o governo pretende conceder cerca de 364 mil autorizações em 2024, cerca de 196 mil a menos do que no ano passado.
A decisão não afeta estudantes que solicitarem a renovação de permissões já concedidas. Segundo o ministro da Imigração canadense, Marc Miller, “os estudantes internacionais são vitais para o Canadá e enriquecem as comunidades”. No entanto, as medidas anunciadas servirão para “proteger um sistema que se tornou tão lucrativo que abriu caminho para o seu abuso”.
— Queremos encontrar o equilíbrio certo para o Canadá e a garantir a integridade do nosso sistema de imigração, ao mesmo tempo que preparamos os alunos para o sucesso que esperam — justificou o ministro em entrevista coletiva.
Ele se refere a uma prática flexibilizada que vem sendo utilizada em universidades que prestam serviços inadequados a custos elevados, como explica o presidente da Associação Brasileira de Agências de Intercâmbio (Belta), Alexandre Argenta:
— Se proliferaram instituições privadas que se associam às públicas para se aproveitar dos benefícios que o visto de estudante no Canadá propicia. Entre eles, a possibilidade do estudante estrangeiro levar cônjuges, que não estudam, para trabalhar legalmente no país. A medida quer qualificar o investimento de quem está indo, mas reduzir as pessoas anexas.
Conforme Argenta, a flexibilização nas leis de imigração ocorreu durante a pandemia, por conta da falta de mão de obra. No entanto, a resolução de um problema trouxe outro: a necessidade por acomodações.
— De certa forma, é como um remédio um pouco amargo na largada, mas que, no médio e longo prazo, vem para um ajuste necessário da educação internacional no Canadá. O próprio povo canadense estava sentindo algumas dificuldades no seu dia a dia nesse fluxo de entrada de estrangeiros no país, como o aumento do custo de moradia acima do normal — contextualizou o presidente da Belta.
Para Taís Garcia, da Trip Travel Viagens de Intercâmbios, é uma forma do país se certificar que estão recebendo “estudantes genuínos”, que viajam com o intuito principal do ensino e, não, em busca de uma imigração.
— Não que a pessoa não possa fazer isso, mas muita gente com mais de 30 e 40 anos vai com família inteira, as crianças podem, inclusive, estudar de graça — diz a sócia da agência.
Qual o impacto no Brasil?
Para o vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no RS (ABAV-RS), Victor Hugo Almeida, a decisão deverá impactar nos estudantes brasileiros que gostariam de viajar ao país da América do Norte para ficar mais tempo.
— Muitos que pensavam em ir estudar em faculdades no Canadá mudarão de ideia. Por outro lado, programas mais curtos de intercâmbio, de até cinco meses, não serão afetados. Então, esse segmento não mudará. As viagens de turismo não serão impactados. São dois mercados diferentes — reitera o empresário da agência especializada Victor Travel.
Segundo a pesquisa Selo Belta 2023, o mercado brasileiro de educação internacional registrou um crescimento sobre o “envio de estudantes para o Exterior” de 18% em 2022 (números mais recentes) em comparação com o ano pré-pandemia de 2019, consolidando em 455.480 estudantes. Entre os destinos mais procurados, o Canadá ficou na primeira posição do ranking, no qual lidera há 22 anos, seguido pelos Estados Unidos (segunda colocação) e Reino Unido (terceira colocação).
Não há números específicos de estudantes gaúchos que foram para o Canadá. Conforme o cônsul Paulo Orlandi, responsável pelo Consulado do Canadá na Região Sul, a média anual de brasileiros que viajam para estudar, em todos os níveis de ensino, gira em torno de 30 mil a 35 mil pessoas.
— Posso afirmar que o Rio Grande do Sul e São Paulo são os Estados que mandam mais brasileiros para lá — diz Orlandi.