Desde o começo do mês de março, o Brasil é o campeão mundial de mortes provocadas pelo coronavírus, segundo informações compiladas pelo site Our World in Data, da Universidade de Oxford. Mesmo assim, ainda há pelo menos 88 nações que permitem a entrada de pessoas saídas do país sem justificativa específica – como trabalho, estudo ou reunião familiar (veja o mapa ao fim desta reportagem).
O levantamento foi realizado pelo Estadão, com base em dados da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA, na sigla em inglês), de sites de agências de viagens e de contatos com as embaixadas dos países no Brasil. A reportagem considerou uma lista de 196 nações reconhecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Como as regras de cada país são atualizadas constantemente, é importante checar a situação diretamente com a representação estrangeira no Brasil antes de planejar qualquer viagem. Especialistas consultados pela reportagem também recomendam que se evitem deslocamentos não essenciais no momento, dada a gravidade da pandemia.
É uma catástrofe que se permitam viagens não essenciais para esses países. Estamos numa situação muito complexa. Fazer aglomeração em aeroporto, pegar voo, isso não é seguro neste momento. O avião é uma das formas mais fáceis que existem de transmitir o vírus de cá para lá e de lá para cá.
PAULO LOTUFO
Epidemiologista e professor de Medicina na USP
A lista de 88 nações com entrada liberada não inclui os destinos mais procurados pelos brasileiros: ficam de fora lugares como Estados Unidos, Argentina, Itália, Espanha e Portugal. Dos 10 lugares que mais receberam brasileiros em 2019, só dois continuam permitindo a entrada: México e Paraguai. Este último tem fronteira terrestre com o Brasil. Outro destino popular que permite a entrada de brasileiros no momento é o Chile.
A maioria dos 88 países está concentrada em três regiões: a África subsaariana, o Leste Europeu e o Caribe (onde o turismo é uma das principais fontes de renda).
Na África, permitem a entrada países como África do Sul, Egito, Senegal, Costa do Marfim, Nigéria, Mauritânia e República da Guiné-Bissau. Outros países lusófonos, como Moçambique e Angola, não autorizam o ingresso.
No leste da Europa, a entrada é permitida em países como Croácia, Montenegro, Albânia e Ucrânia. Já no Caribe, é possível visitar países como Cuba, Bahamas, Panamá e Dominica.
Regras variam
O grau de restrição e as regras impostas pelos países variam desde aqueles que não fazem nenhuma exigência específica de testes e quarentena, como a Macedônia do Norte, até lugares onde a entrada está totalmente proibida, como Tuvalu, Iêmen e a Coreia do Norte.
Mesmo que alguns países ainda permitam a entrada de visitantes, é desaconselhável realizar viagens não essenciais neste momento, reforça o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP):
— É uma verdadeira catástrofe que se permitam viagens não essenciais para esses países. Estamos numa situação muito complexa, deveríamos nos concentrar em combater a pandemia nas nossas próprias cidades. Fazer aglomeração em aeroporto, pegar voo, isso não é seguro neste momento. O avião é uma das formas mais fáceis que existem de transmitir o vírus de cá para lá e de lá para cá.
Procurado pela reportagem, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) informou que não mantém uma lista atualizada dos países que permitem ou não a entrada de brasileiros. O Itamaraty destacou que as medidas de proibição de entrada de pessoas vindas do Brasil não são "discriminatórias" contra brasileiros e se devem à disseminação das novas variantes do coronavírus no país.
"O principal critério para as medidas mais drásticas, como proibição de voos ou de entrada de passageiros, tem sido a detecção de novas variantes do coronavírus, o que atinge não apenas o Brasil, mas também países como Reino Unido, Irlanda, África do Sul, Dinamarca e Japão. Esse é o mesmo critério que justifica a proibição, ora vigente, de ingresso no Brasil de voos oriundos do Reino Unido e da África do Sul, embora a fronteira aérea esteja aberta a voos e viajantes provenientes dos demais países, desde que cumpridos certos requisitos sanitários", disse, em nota, a pasta.
O MRE também afirmou que a maioria dos países que proíbem a entrada de pessoas que saiam do Brasil criou exceções, "tais como voos exclusivamente de carga, tripulação aérea e voos extraordinários de natureza humanitária e os que visam a repatriar cidadãos e residentes permanentes retidos no exterior", declarou o MRE.