Caçapava do Sul, no pampa gaúcho, contempla o visitante com atrações em dois extremos. Por um lado, tem pontos de interesse bem “terrenos”, como impressionantes formações rochosas acima e abaixo da superfície, que colaboraram para seu reconhecimento como Capital Gaúcha da Geodiversidade, além de uma rica história relacionada à Revolução Farroupilha. Do outro, atrai muita gente de olho nos céus: Caçapava é um destino de turismo ufológico, pois seria local de aparição de objetos voadores não identificados (óvnis).
Partindo de Porto Alegre, o trajeto até lá é simples. Basta pegar a BR-290 em direção à Fronteira – são 240 quilômetros para chegar ao cruzamento com a BR-392. Vinte quilômetros à frente, você já está no centro da cidade, onde teve início o nosso passeio.
Ao redor da Igreja de Nossa Senhora de Assunção, que começou ser erguida em 1839, fica a residência onde nasceu Borges de Medeiros e a Casa dos Ministérios, sede do governo farroupilha entre 1839 e 1840. Os prédios estão fechados, aguardando restauração, mas dá para visitar o vizinho Centro de Cultura, que ajuda a contar a história da revolta. O acervo tem armas usadas do conflito e ferramentas dos tempos de escravidão.
Uma dica importante é contratar um guia local, pois os pontos turísticos fora da cidade são bem distantes uns dos outros. Esses profissionais também vão garantir que você não se arrisque em lugares perigosos – a maioria fica dentro de propriedades privadas, e as estradas nem sempre são boas.
Fora do Centro, nossa primeira parada foi em uma fazenda onde fica um dos lugares mais bonitos que já vi: a Gruta da Varzinha. No teto, há estalactites e, no chão, estalagmites. Às vezes, elas se encontram e formam colunas, resultado de milhares de gotas que foram se calcificando. A primeira impressão que se tem lá é de que a terra está derretendo.
– Na verdade, o nome mais indicado seria Furna da Varzinha, porque ela tem 70 metros de comprimento por sete ou oito de profundidade. Grutas são bem mais profundas – explica o guia de turismo Erni Santos Rocha.
Ali perto, uma viagem de cerca de 15 minutos leva a outra propriedade, onde fica a Toca das Carretas, uma formação rochosa que hoje é refúgio de corujas raras, mas que já serviu de abrigo em tempos de guerra. É da época da Revolução Farroupilha que vem o nome desse lugar: acredita-se que os farrapos usavam a gruta para se esconder do exército do Império.
No dia seguinte, fomos conhecer paisagens de outras propriedades. Ao amanhecer, o sol bate de frente com a Pedra da Baleia. Tem também as pedras do ET, a Grande e a do Leão – todas podem ser vistas da RS-357, na saída para Lavras do Sul. Depois, nosso destino foi a Pedra Furada, que fica dentro de uma das propriedades.
Só no Vale da Serra do Sudeste há seis trilhas, e quais fazer vai depender da disposição e do fôlego de cada um. Decidimos conhecer o Parque Municipal da Pedra do Segredo, um dos lugares mais visitados do município.
A sede é simples, não tem lancheria, só água potável. É preciso pagar ingresso: R$ 20 por pessoa, com direito a passeio pelas trilhas, sempre com guias.
– É um lugar místico. Reza a lenda que ali está enterrado o corpo de Sepé Tiarajú – conta o guia de turismo Iuberê Dutra Machado.
Nosso objetivo era chegar ao topo da pedra, mas o caminho até lá também é cheio de atrações. No pé do morro, fica a Caverna da Escuridão, que precisamos conhecer empunhando velas. Seria ali que o espírito do índio Tiaraju dava sinais de estar perto. O guia explica que, antes de um pequeno desmoronamento que aumentou a entrada de ar na gruta, as velas se apagavam por falta de oxigênio – o que seria feito pelos guardiões do Tiaraju, segundo a lenda – hoje, isso não acontece mais.
A trilha nos levou à Caverna ou Gruta das Estalactites e, subindo mais um pouco, a outra gruta. Após uma hora de caminhada, chegamos ao topo, a 120 metros de altitude. A vista vale a pena: dá para ver os campos nativos e a Serra do Sudeste, que se estende até Santana do Livramento.
O paredão também pode ser escalado – uma aventura para os mais experientes ou corajosos. Quem quiser pode fazer aulas de escaladas e rapel no local (o preço deve ser combinado com os instrutores).
Destino de ufólogos
Caçapava do Sul também atrai quem não está em busca de belas paisagens – esses vão para o Mirante da Pedra da Lua, ponto de observação de objetos voadores não identificados. Até o nosso guia garante que já viu um.
– É uma luz forte, que para no céu e vai se apagando, depois aparece em outro lugar, até desaparecer. Acho que eles vêm aqui atrás de minérios, para buscar ou para levar – opina Iuberê Dutra Machado.
Voltamos no outro dia acompanhamos um grupo de observação. É comum os ufólogos se reunirem ali à noite para tentar encontrar Óvnis.
– Eles pousam, e as pessoas têm uma aproximação de cem, 200 metros. Depois, elas ficam semanas sem dormir direito – afirma o ufólogo Elver Teixeira.
Os especialistas no assunto garantem que muitos relatos são comprovados. Para isso, eles descartam que tenham sido outros objetos, como aviões e balões. Depois, usam a técnica da hipnose.
– A hipnose regressiva consegue resgatar essa memória. A pessoa descreve exatamente o que aconteceu: uma, duas vezes, três vezes a mesma coisa. Então, aí, você conclui que alguma coisa realmente aconteceu – argumenta o ufólogo Odone da Costa Nunes.
Novamente pelo meio da mata, subimos ao mirante. Não vimos nada de estranho no céu, mas a experiência noturna ao lado da Pedra do Segredo é única.
– A energia do lugar é bem legal, o barulho do mato, o céu estrelado – comenta o engenheiro ambiental Stener Camargo.
Quem se sentir frustrado pode apelar para o Centro Cultural da cidade, onde há fotos dos flagrantes feitos na região por moradores e ufólogos. Há até pedaços de telhas que teriam sido danificadas por objetos que caíram do céu.
#PartiuRS é uma série multimídia que mostra as belezas do Estado. Além do ZH Viagem, a série pode ser acompanhada aos sábados, no Jornal do Almoço, da RBS TV, no Supersábado, da Rádio Gaúcha, e em um site especial no G1. A coordenação é de Mariana Pessin (mariana.pessin@rbstv.com.br)