A serra que espia o mar de longe esconde um banquete para aventureiros e àqueles que preferem um veraneio mais no meio do mato do que propriamente na faixa de areia. O Litoral Norte preserva cachoeiras belíssimas, algumas delas pontos turísticos consolidados nas cidades litorâneas. Em Maquiné, por exemplo, há pelo menos uma dezena delas, mas nem todas contam com acesso seguro, e outras são parte de propriedades privadas, que não autorizam visitação por motivos como dificuldade das trilhas e risco de acidentes.
Mas não desanime. Há cascatas ao alcance dos olhos sem desafios muito perigosos.
Em qualquer uma delas, a dica é prudência e bom senso diante da natureza. Como a maioria não conta com monitoramento de guarda-vidas, atirar-se das pedras ou mergulhar nas áreas mais profundas pode ser arriscado. O bacana desses passeios é contemplar a beleza das quedas e curtir a água cristalina, levando na mochila água, saquinho para recolher (e levar) o lixo, repelente e protetor solar. Celular, só para fotografar mesmo – em geral, não há sinal por aquelas bandas. A regra é desconectar.
Atualmente, os municípios de Maquiné, Rolante, Riozinho, São Francisco de Paula e Santo Antônio da Patrulha estão trabalhando para a criação da Associação Caminho das Cascatas, para que esses locais sejam monitorados e regrados, evitando degradação ambiental e condutas arriscadas dos visitantes.
— A gente quer a associação para, juntamente com os proprietários desses locais, criar uma gestão ambiental correta. É preciso bom senso no uso, especialmente no cuidado com o lixo — diz o secretário de Desenvolvimento, Agricultura e Ambiente de Maquiné, Luciano de Almeida Alves.
GaúchaZH visitou sete cachoeiras na região litorânea neste veraneio para descobrir os encantos e desafios que cada uma reserva. Clique nos localizadores do mapa abaixo para ter mais informações.
Cascata do Garapiá
É uma das mais conhecidas e frequentadas de Maquiné, porque tem acesso fácil de carro e exige uma caminhada rápida a pé até o ponto da queda d’água. Mas é bom avisar aos estreantes: o trajeto para a localidade de Barra do Ouro não tem uma sinalização, assim, tão eficiente. Então, o jeito é informar-se com os moradores da cidade antes de seguir caminho. Na estrada de chão – cerca de 10 quilômetros –, há bifurcações que podem confundir. Siga pela esquerda quando encontra a placa que aponta a Cascata da Solidão, que não é indicada para banhos.
A Cascata do Garapiá tem 12 metros de altura e pode chegar a três metros de profundidade em alguns pontos. A água – como em toda cachoeira – é gelada, mas tão cristalina que se enxerga perfeitamente o que está submerso.
Apesar de algumas pessoas desrespeitarem a regra, não é permitido fazer churrasco às margens da queda d’água, e todos devem recolher o lixo que produzirem. O local, até pela proximidade com campings da região, é bastante requisitado nos finais de semana de calor, quando a prefeitura também desloca um monitor para observar os banhistas. Os feriados de Ano-Novo e Carnaval são os mais movimentados na cachoeira.
Ponto importantíssimo antes de seguir à Garapiá é observar as condições do tempo, não somente no dia da aventura. Se dias antes tiver chovido muito, o melhor é cancelar o passeio, porque a estrada corta o caudaloso Rio Forqueta e arroios próximos. Se tem muita água correndo, as passagens ficam bloqueadas pela correnteza. Não duvide da força de um rio.
No caminho, há alguns bares bem simples, em que se pode encontrar algo para beber, mas os horários não são regulares. Melhor levar uma garrafinha como garantia.
Prepare-se
— Maquiné fica a cerca de 130 quilômetros de Porto Alegre. Pela BR-101, acesse a ERS-484.
— A trilha é fácil. Dependendo de onde você consegue deixar o carro, a caminhada não passa dos 300 metros.
Cascata da Forqueta
A Cascata da Forqueta fica perto da Garapiá, mas a estrada até lá é um pouco mais pedregosa e há pontos pelos quais um carro muito baixo não passa, por conta dos buracos. Sem contar que a pista estreita exige muita habilidade do motorista na hora de ultrapassar quem vem no sentido oposto. O visitante ainda tem de enfrentar uma trilha mais complicada, que exige travessia do rio e um sobe e desce pelo meio da mata.
Se serve de consolo, todo o sacolejo no carro e os cerca de 400 metros de “selva” são muito bem recompensados. A Forqueta tem uma queda de aproximadamente 70 metros que surge em um clarão de pedras. É uma das mais bonitas da região. Banho seguro, só na beirinha.
Prepare-se
— Fica a cerca de 15 quilômetros do centro de Maquiné. A trilha tem dificuldade média nos cerca de 400 metros pela mata, mas é bom estar com calçados adequados em razão do risco de deparar com animais peçonhentos.
Cascata da Borússia
Localizada no município de Osório, essa cascata fica dentro de uma propriedade privada, na Estrada Geral da Borússia, distante cerca de 10 quilômetros da BR-101. De fácil acesso, apenas um trecho curto é de estrada de chão.
Como fica dentro de um sítio, no limite com o município de Caraá, é cobrado ingresso de R$ 15 por pessoa (menores de 10 anos têm entrada livre) para permanecer o dia todo no local. A infraestrutura é completa: há churrasqueiras, banheiros, lancheira, pracinha e chuveiros. Bastante sinalizado, o local alerta para os perigos das águas, que chegam a seis metros de profundidade em um trecho.
Prepare-se
— O funcionamento (no verão) é de segunda a segunda, das 8h30min às 19h. Informações pelo telefone (51) 99916-2447.
Cascata da Pedra Branca
Situada no município de Três Forquilhas, Pedra Branca tem mais de cem metros de altura e é um convite para o banho – mesmo que de roupa. Isso porque, em dias com vento, os jatos de água não perdoam e banham até quem não pretendia se molhar.
Para chegar até ela, o caminho é uma aventura. Distante mais de 42 quilômetros da Estrada do Mar, a maior parte do trecho que leva à cascata é de chão batido. O trajeto é longo: pela RS-486, passa-se por cima da BR-101, pelos municípios de Terra de Areia e Itati.
Depois de passar Itati, é preciso ingressar no distrito Boa União, em uma entrada com um posto de combustíveis na esquina. Após chegar à igreja da região, anda-se ainda por volta de nove quilômetros, passando sob cinco pontes. Dá para chegar de carro bem perto da queda d’água e depois andar cerca de cem metros até ser recompensado pela vista deslumbrante.
Prepare-se
— O trajeto deve ser feito com cautela, pois a estrada é de chão batido e com muitas pedras soltas.
Cascata Vila Nova
Fica no município de Caraá, vizinho de Santo Antônio da Patrulha, por onde se dá seu acesso. A estrada não é asfaltada, por isso, os motoristas devem ter cautela.
No caminho até a cascata, passa-se por uma construção antiga, datada de 1933, que hoje abriga um mercado. No trajeto, também é possível observar algumas empresas calçadistas que atuam no município, que fazia parte de Santo Antônio da Patrulha e foi emancipado em 1995.
Para chegar à queda d’água, é preciso deixar o carro em um ponto da estrada e seguir a pé por cerca de 15 minutos dentro da mata, subindo uma lomba até a entrada da cascata. É indicado ir de tênis e evitar dias posteriores aos de chuva. O local é pequeno. A cascata tem cerca de 20 metros de altura, e há uma piscina natural para banho.
Em Caraá, também está situada a nascente do Rio dos Sinos, que tem uma queda d’água de cerca de 120 metros de altura. No entanto, para encarar a trilha, de difícil acesso, é preciso cerca de três horas para ir e voltar. O passeio só pode ser feito em dias secos.
Prepare-se
— Há placas indicando o caminho, mas é mais seguro fazer o passeio com um guia (Osmar Vidal cobra R$ 150 de grupos; contato pelo telefone 51 99516-9149).
Poço das Andorinhas e Poço dos Morcegos
Prepare-se para encontrar muito encanto na zona rural de Três Cachoeiras, município às margens da BR-101. A 17 quilômetros da estrada, estão duas cachoeiras espetaculares, que formam piscinas naturais em meio à mata fechada. Passando a localidade de Alto Rio do Terra, está o Poço das Andorinhas, uma cascata que se desenhou nas pedras de basalto a quase quatro metros de altura. É como uma grande piscina, com água cristalina e gelada, ladeada por uma enorme furna.
Como em outras cascatas da região, não é permitido acampar, fazer churrasco ou deixar resíduos. A trilha é bem curtinha e de fácil acesso. De onde se deixa o carro, já é possível ouvir o som da queda d’água.
Em uma trilha paralela, com cerca de cem metros, pode-se chegar ao Poço dos Morcegos. Apesar do nome assustador, durante o dia não se percebe além de uns gritinhos dos mamíferos que nomeiam a cascata, que forma um tobogã de pedras. A trilha é limpa e tranquila. Vale apurar o olhar para a vegetação nativa, que reserva flores deslumbrantes, como a helicônia.
Prepare-se
— O acesso, a partir da BR-101, é pela localidade de Alto Rio do Terra e siga por cerca de 15 quilômetros pela estrada principal. O trajeto é bem povoado.