Valparaíso é uma cidade histórica, de casas coloridas, dividida entre a parte baixa e a parte alta, com 47 cerros. Foi escolhida pelo poeta Pablo Neruda para passar boa parte de seus dias. Localiza-se 115 quilômetros a oeste de Santiago, rumo ao Pacífico – uma hora e meia de uma viagem curta. No meio do trajeto, a Rota 68 se transforma em rota do vinho no Vale de Casablanca, onde há 40 vinhas em operação.
Valparaíso tem seu destino e sua geografia ligados a Viña del Mar. São duas das principais cidades do Chile. Os últimos censos não têm oferecido dados confiáveis, mas, juntas, elas somam mais de 600 mil habitantes, segundo estimativas de 2016: Valparaíso com 300 mil, e Viña del Mar com 345 mil.
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Um dia para conhecer as duas é muito pouco tempo. Sugere-se começar a exploração por Viña del Mar, uma cidade litorânea charmosa e ajardinada, à beira do Pacífico, para que a surpresa chegue a seu ponto máximo no Cerro Concepción, em Valparaíso, e no vizinho Cerro Alegre. Viña é mais nova, fundada no século 19. Ela é reconhecida como um dos principais balneários chilenos – a arquitetura dos prédios é moderna, tudo parece arrumado, tem atrações como cassino, um castelo, o relógio das flores e ótima infraestrutura turística.
Já Valparaíso é uma cidade portuária do século 16. Esse tempo todo, ela sobreviveu a terremotos e ataques de corsários. Nela, é tudo diferente. No caminho entre uma e outra, torna-se evidente que Valparaíso aparenta ser confusa, com comércio de rua nas calçadas da cidade baixa. Algo caótico.
O contraste é marcante. Mas Valparaíso tem 47 cerros, dos quais 42 são habitados. Aí reside a maior parte de seu encanto. É hora de subir as ladeiras até chegar a um lugar chamado "Sete esquinas", já no Cerro Concepción, onde desembocam sete "calles", ou ruas. E Valparaíso transforma-se de vez em uma cidade mágica, de ruas estreitas e casas coloridas.
Ali naquele ponto, nas "sete esquinas", convém abandonar de vez o meio de transporte tradicional dos roteiros turísticos, a van – a recomendação óbvia é caminhar para descobrir a cidade. Cuidado se tiver de voltar, pois as ladeiras são íngremes. Outra opção são os chamados ascensores, ou elevadores tipo bondinhos, para ir de um ponto a outro entre os cerros. Nem todos funcionam, mas são uma característica local, com tarifa semelhante à do transporte público.
Porém, é a pé que se descobre o Cerro Concepción e se mantém contato direto com as casas de Valparaíso. Elas guardam íntima relação com a região portuária que deu origem à cidade. Os moradores compravam as tintas que sobravam dos navios, bem como buscavam placas de antigos contêineres, feitas em zinco, que se transformaram em paredes nas fachadas. Assim, Valparaíso foi se tornando colorida.
Os cerros parecem os morros apinhados de moradias de algumas cidades brasileiras, mas há diferenças visuais evidentes. As cores das casas são apenas uma delas, mas esse colorido também ganha a forma dos inúmeros grafites pintados pelos jovens que moram na região. Aliás, há muitos jovens, que estudam entre Viña del Mar e Valparaíso, e a presença deles nas "calles" estreitas, em convivência com artistas de rua, dá um toque especial ao ambiente. As ruas e as vielas são pontilhadas por restaurantes e cafés modernos, além de galerias de arte e boas hospedagens.
Valparaíso foi colonizada por espanhóis, mas, por ser referência importante na rota que ligava a Europa à costa do Pacífico, recebeu ingleses, franceses, portugueses, holandeses e até iugoslavos, que deram a denominação para o Cerro Iugoslavo. Antes, na reta final do Concepción, pausa para admirar o cenário do chamado Paseo (Passeio) Atkinson, influência colonial inglesa, inclusive na arquitetura das casas, que inclui um mirador imperdível para a região portuária, o Pacífico e outros cerros de Valparaíso.
A descida do Concepción guarda um cenário urbano único e leva ao coração do centro histórico, a Plaza Sotomayor, com seus prédios em arquitetura clássica e repartições públicas. Ela desemboca no porto, área aproveitada para a convivência dos moradores aos finais de semana.
Patrimônio da humanidade
Valparaíso foi a cidade escolhida pelo poeta Pablo Neruda para uma de suas casas no Chile. Tornou-se patrimônio cultural da humanidade reconhecida pela Unesco em 2003 por seu valor histórico e pela geografia inconfundível.
É uma espécie de capital cultural do Chile. Artistas e intelectuais chilenos se mobilizaram para a conquista do título junto à Unesco.
Como ir
-Você pode alugar um carro em Santiago para ir a Valparaíso e Viña del Mar. A viagem é curta, de pouco mais de uma hora, pela Rota 68, estrada em ótimas condições.
-O percurso pelos cerros exige um bom conhecimento. Um caminho sem erro é seguir de carro pela principal rua costeira de Valparaíso até a Plaza Sotomayor, e dali ganhar os cerros, a pé.
-Roteiros turísticos diários são frequentes entre Santiago, Valparaíso e Viña del Mar. O preço varia dependendo da duração e dos serviços incluídos no pacote. Há passeios de meio dia, que não valem a pena, diante da infinidade de atrações.