Por Eduardo Glitz, especial*
Sempre fomos apaixonados por viagens, mas a rotina pesada de responsabilidades de um empresário nunca nos permitia viajar relaxados, era telefone ligado, e-mails a todo instante. Ficava difícil de realmente curtir e se aprofundar naquilo que vivíamos em cada viagem de no máximo 10 dias.
Foi então que surgiu a oportunidade de vender minha participação na empresa que eu havia construído com meus sócios. Era a hora da recompensa pelos muitos anos de trabalho. Falei para a Thainá, minha esposa: vamos dar uma volta ao mundo? A primeira reação foi meio de susto, pois a verdade é que nunca tínhamos falado sobre isso, não era a história de sonho antigo que todo mundo conta. Coloquei "volta ao mundo" no Google, vi que era possível, e que algumas pessoas haviam feito. Então, também podíamos.
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Olhei o mapa-múndi com calma e marquei todos os países que queria conhecer – eram 40. Mostrei para a Thainá, ela gostou, então começamos a montar o roteiro. O medo inicial era a sensação de não ter casa, um lugar nosso, aquela sensação de ter o nosso "cantinho".
Depois de 15 dias cruzando o país de carro, já estávamos cansados de não ter um lugar para cozinhar, precisar sair para comer fora todos os dias. Rapidamente, entendemos que a viagem era nossa vida, e o ritmo deveria ser outro. Cada hotel que parássemos deveria ter a sensação de nossa casa. Nossa cabeça começou a funcionar assim – foram 130 hotéis ou diferentes casa no mundo, e nos acostumamos rapidinho. O mais importante é respeitar o corpo e ter uma rotina leve, muito diferente de quando você viaja de férias e quer conhecer tudo. Alguns dias ficávamos no hotel, ou só saíamos para comer, igual faríamos se estivéssemos em casa.
Nosso roteiro começou na Oceania, 50 dias entre Nova Zelândia e Austrália. De lá partimos para explorar a Ásia por quatro meses, uma experiência incrível. Costumo dizer que, quando vamos para Europa ou Estados Unidos, estamos conhecendo lugares com a mesma cultura, mas mais desenvolvidos. Já na Ásia é tudo novo, você aprende muito, são hábitos, cultura, religião e língua totalmente diferentes. Países que você não espera nada e, de repente, têm surpresas maravilhosas.
Foi o caso do Vietnã. Tínhamos a imagem de um país velho, feio, destruído por uma guerra. E é totalmente diferente, parecido com o Brasil, muitas coisas desenvolvidas, muitas outras não desenvolvidas, com uma beleza natural e uma cultura incríveis. Assim aconteceu em muitos destinos asiáticos, sempre surpresas que nos empolgavam.
O país que mais gostamos de conhecer por lá foi o Butão. São apenas 600 mil habitantes – a TV só chegou lá em 1999. São considerados o povo mais feliz do mundo. Pobres, mas muito felizes. Lá aprendemos os verdadeiros valores da vida. A China foi o nosso último destino do continente – jamais esperávamos tanta beleza natural e tanto desenvolvimento. Sem dúvida, deve estar nos planos de quem gosta de viajar.
Da Ásia, partimos para a Europa. Foram mais quatro meses explorando o velho mundo, com 19 países visitados e paisagens empolgantes.
Ficamos encantados com as belezas da Islândia e visitamos a cidade com mais de 50 mil habitantes mais ao norte do mundo, Tromso, na Noruega, para ver a aurora boreal e a noite polar. Na noite polar, não existe luz solar em nenhum horário, é noite sempre. Uma experiência muito diferente e empolgante. Fomos à Rússia entender a história do comunismo; à Polônia, conhecer Auschwitz; e cruzamos de carro a Suíça, com lagos inesquecíveis na beira da estrada.
Da Europa, fomos ao Canadá e, por três meses, exploramos a América do Norte. Eu ainda tinha algumas atividades profissionais por lá e acabei conciliando. Em quase todos os países que visitamos, explorei o ambiente de negócios, visitei empresas e conversei com empresários para entender o que estava acontecendo, as principais oportunidades e as tendências. Sou apaixonado por negócios, e esta foi uma experiência que não podia faltar na viagem.
Para finalizar o roteiro, fomos à África e ao Oriente Médio – e adoramos. Visitamos o Catar e os Emirados Árabes, ambos nos impressionaram muito pelo nível de desenvolvimento. Já na África, conseguimos ir somente para o Marrocos e a África do Sul. A experiência do safári em território africano foi inesquecível.
Depois de 407 dias viajando pelo mundo e 42 países visitados, as duas perguntas que mais ouvimos são:
1) Quais os países de que mais gostaram?
É impossível dizer um. São seis: Austrália, Butão, China, Islândia, Suíça e África do Sul.
2) Qual foi o maior aprendizado?
Ficou claro o quanto somos ignorantes, no sentido de falta de conhecimento em relação ao mundo, e continuamos sendo. Jamais podemos condenar algum estrangeiro que pense que o Brasil é a terra dos macacos ou do samba, pois o pensamento da maioria de nós em relação a outros países, em especial da Ásia, é o mesmo.
Perfil
*Eduardo Glitz, 37 anos, é empresário do mercado financeiro e nasceu em Porto Alegre. Ele viajou com a mulher, a designer Thainá Cabral, 30 anos, de São Luiz Gonzaga. De volta ao Brasil, Eduardo está empreendendo novamente na mesma área com alguns ex-sócios, e Thainá está preparando um livro sobre a aventura.