Caminho de quem vai até a praia da Lagoa dos Patos em Arambaré, a Trilha dos Piquetes, trecho de 800 metros cheio de arumbevas, bromélias, butiazeiros, capororocas e tantas outras espécies nativas, é o local da primeira trilha acessível para pessoas com deficiência visual no Estado. Conhecer a natureza através de toques, cheiros e gostos, com placas explicativas e cordas-guia, é extremamente enriquecedor, visto pelo aspecto acessível e inclusivo.
Uma parceria entre Sebrae, gestores públicos e empreendedores locais foi feita para que a cidade, antes focada em conquistar visitantes nos períodos de sol, praia e Carnaval, encontrasse sua vocação turística. Em 2016, após um ano de trabalho, o projeto Qualificar o Turismo na Costa Doce – Náutico foi aberto para a visitação de moradores da região e estudantes guiados por componentes da Confraria do Bem Viver.
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Estive lá no passeio inaugural, acompanhado por participantes do projeto e guias locais. Durante a explicação sobre a trilha, havia um cuidado especial com a descrição dos vídeos e das imagens, feita ao vivo pela turismóloga Regina Cardona. Era possível sentir uma diferença no ar, o barulho intenso dos pássaros e o ruído distante dos veículos. O terreno era predominantemente arenoso, e as raízes pouco atrapalhavam o trajeto, percorrido com as explicações do guia Pingo.
As cordas-guia eram um pouco baixas, então preferi ir de braço dado com ele. Acabei não fazendo a leitura de algumas placas – porque estavam muito quentes do calor do sol ou por dar preferência para outro deficiente visual ler. Ainda assim, era perceptível que algumas estavam com letras levemente apagadas.
No encerramento, descobri que a trilha não havia acabado – mas as cordas-guia, sim. Além disso, uma placa já encontrava-se mais distante da outra, o que não permite ao cego seguir sozinho pelo espaço (ele poderia se perder no caminho).
A primeira trilha acessível foi, na verdade, adaptada, porque tanto as cordas-guia quanto as placas precisam ser sempre retiradas e recolocadas a cada visitação, evitando assim que se estraguem com o tempo e não sofram a ação de vândalos.
Maicon Everton Gomes, que perdeu a visão há três anos por causa de um glaucoma, avalia que, por ser a primeira trilha acessível do Estado, o trajeto foi interessante, e a iniciativa, válida:
– O trajeto foi bem bacana, mas, se pudesse modificar algo, tentaria afastar os galhos espinhentos, pois eles estavam muito juntos da corda-guia.
Já a auxiliar administrativa Letícia Severo da Rosa, 36 anos, pensa que é parte do passeio alguns arranhões, dificuldades na caminhada ou eventuais choques com os troncos das árvores.
– O envolvimento das pessoas em trazer a acessibilidade foi espetacular – avalia.
A aposentada Isoleide Baldin de Vargas, 47 anos, teve na Trilha dos Piquetes sua estreia nesse tipo de caminhada – que, segundo ela, superou suas expectativas:
– Foi tudo muito acessível, a história da cidade é riquíssima, e a natureza, muito bela.
Como fazer
Quem ficou curioso para conhecer a Trilha dos Piquetes e as belezas da região pode entrar em contato com a Confraria do Bem Viver pelo e-mail para confrariadobemviver@gmail.com ou fazer o agendamento por meio das pousadas e dos hotéis do município.
O passeio deve ser marcado com pelo menos duas horas de antecedência, pois a estrutura de acessibilidade não é fixa, para preservar os equipamentos das intempéries do clima ou de possíveis danos patrimoniais. A visitação custa R$ 18 e pode ser feita em grupo ou individualmente.