Desvendar a mística e misteriosa Índia. O objetivo estava traçado desde o começo da adolescência, quando tive contato mais profundo com livros de História. No meu imaginário aventureiro, a terra de Gandhi precisava ser desbravada a fundo. Como podem vacas ser sagradas? Por que meninas são condenadas à morte por nascerem... meninas? Qual o sentido de atirar pessoas mortas no sagrado Rio Ganges?
Essas eram algumas perguntas que me inquietavam e almejava sanar, mas, ainda que tenha rodado o país por 30 dias, despedi-me da Índia com ainda mais questionamentos do que certezas. A maior democracia do mundo e a terra do hinduísmo, das especiarias e do críquete é praticamente indecifrável.
Confira o roteiro completo:
A dura Calcutá
Ioga e espiritualidade na sagrada Varanasi
Nova Délhi, capital pluricultural
Rajastão, terra dos marajás
A cultural e fervilhante Mumbai
Bangalore, uma agradável confusão
Goa, um pedacinho de Brasil
Auroville, mística e mágica
A expedição começou em março, período seco e prévio às monções, caracterizadas por grandes inundações. O ponto de partida foi a intrigante Calcutá, antiga capital do Império Britânico no país e reduto de Madre Teresa, que virou santa da Igreja Católica no início deste mês. De lá, segui meu caminho – aberta a todas as possibilidades, não comprei passagens com antecedência nem reservei hospedagem. Queria deixar os (bons) ventos me levarem. Passei pela intensa Nova Délhi, pela mística Varanasi, pela Agra do Taj Mahal, pelo Estado dos marajás, pela Mumbai bollywoodiana, pelas lindas praias de Goa, pela confusa Bangalore e pela mágica Auroville.
A Índia provoca sentimentos múltiplos e sensações extremas, o tempo todo. Não se vê propaganda ou apelo ao erotismo. Há explícita troca de carinhos entre homens, apesar de a homossexualidade ser um tabu em todo o país (o código penal indiano prevê penas para casais do mesmo sexo). Namorados precisam ser discretos, tanto que raramente se vê beijo em público. A quantidade de pessoas e de tuk-tuks nas ruas cansa, assim como o barulho insano das buzinas. A poluição e o lixo espalhados pelas vias também.
Mesmo em meio ao caos, os indianos te observam, têm curiosidade de saber de onde vens, buscam a troca de ideias. E querem tirar fotos. Para muitos, há a cultura de guardar registros com ocidentais. Há quem diga que as imagens podem ser expostas na sala de casa. Pediram-me tantas fotos que não me assustaria se estivesse enquadrada na casa de algum indiano.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a Índia ultrapassará a China como a nação mais populosa do mundo em 2022, com cerca de 1,4 bilhão de habitantes. Isso significa que o país representará um quinto da população mundial em 2050. O dado é assustador. O desafio é enorme. Especialmente para um lugar tão desigual, no qual a mulher ainda tem papel social pífio e onde ricos e pobres são segregados pelo complexo sistema de castas.
Poderia fazer uma extensa lista de problemas vistos durante o mês de incursão pela Índia, mas é preciso também falar do belo, do apaixonante, do diferente. Na terra dos sáris, há comidas saborosíssimas (e apimentadas), músicas que seguem um caráter emotivo, uma filosofia amplamente ligada à fé e à religião (hinduísmo, jainismo, budismo etc.), que encanta pelos milhares de deuses e lendas. Além disso, há belas paisagens naturais.
Acredito que a Índia ainda não tenha descoberto seu completo potencial para o turismo. Há um padrão de receptividade e hospedagem diferentes. A capacidade para o setor, contudo, é gigantesca. Não faltam aspectos curiosos, exóticos. E para nós, brasileiros, o real vale muito frente à rúpia indiana. Inúmeras vezes, perde-se o senso de preço e valor, pelo custo de vida tão mais baixo do que o nosso.
"All is possible in Índia (Tudo é possível na Índia)", ouvi de indianos de norte ao sul do país. Quer saber o verdadeiro significado dessa máxima? Então, inclua a Índia no seu próximo roteiro. Dispa-se de qualquer preconceito, vá de coração aberto. Pode ser mágico.