Quer melhor artefato para exibir em uma exposição chamada "New York at Its Core" (O Cerne de Nova York) do que uma engenhoca de metal projetada para retirar caroços de maçã?
O objeto está entre os 400 sendo preparados pelo Museu da Cidade de Nova York para sua primeira exposição permanente, em uma área de mais de 600 metros quadrados, ambiciosamente destinada a evocar a própria essência da metrópole, conhecida como Big Apple (com caroço e tudo) desde que o escritor John J. Fitz Gerald popularizou esse apelido no New York Morning Telegraph, há 95 anos.
O museu dedica todo seu primeiro andar para mostrar como o dinheiro, a densidade, a diversidade e a criatividade diferenciaram a cidade de outras colônias norte-americanas desde que os primeiros colonos europeus chegaram, há quatro séculos, e começaram o que era então Nova Amsterdã como, obviamente, uma empresa que visava o lucro.
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– As pessoas esperam uma abrangência total da história da cidade de Nova York e é isso que vamos mostrar. Não só está no nosso nome como esse é o papel do museu, disse Sarah Henry, curadora-chefe do museu.
A exposição permanente, que abrirá em novembro, é vista como um chamariz para as exposições temporárias, que ficarão no piso superior do edifício neogeorgiano de tijolo e mármore na esquina da Quinta Avenida com a 103rd Street, em Manhattan.
O museu foi fundado em Gracie Mansion, atual residência oficial do prefeito, há quase um século, em 1923, por Henry Collins Brown, vendedor de publicidade e jornalista nascido na Escócia, quando a cidade se aproximava de seu tricentenário.
Para sua nova casa, o museu celebrou o papel da cidade na fundação dos EUA: o lançamento da pedra fundamental do edifício da Quinta Avenida ocorreu em 1929, no 140º aniversário da posse do presidente George Washington, em Nova York, e suas portas foram abertas em 1932, comemorando também o 174º aniversário de nascimento de Alexander Hamilton.
A exposição de US$ 10 milhões conclui os 10 anos de expansão e renovação que custaram US$ 97 milhões, supervisionadas por Susan Henshaw Jones, que se aposentou no ano passado como diretora do museu. Recentemente, o projeto foi passado para sua sucessora, Whitney W. Donhauser.
– Uma exposição desta envergadura, com três galerias completas dedicadas ao passado, presente e futuro da cidade de Nova York, não existe em nenhum outro lugar da cidade, disse Whitney.
"New York at Its Core" é dividida em seções: "Port City" (Cidade do Porto), de 1609, quando Henry Hudson chegou, até 1898, quando os cinco bairros se uniram para formar a Grande Nova York; "World City" (Cidade do Mundo), de 1898 até 2012; e "Future City Lab" (Laboratório da Cidade do Futuro).
Em cada seção, os visitantes receberão um texto sobre os quatro temas escolhidos pelos curadores: dinheiro (o impacto do mercado e os esforços para controlar seus excessos); densidade (os desafios que impõe e as oportunidades que apresenta); diversidade (diferentes respostas a uma população diversificada, desde um conflito aberto passando pela tolerância relativa e chegando a certa indiferença); criatividade (como essa mistura potente de forças fomentou a inovação).
Os visitantes podem explorar imagens digitais e de vídeo, comparar paisagens históricas e contemporâneas e considerar o impacto de indivíduos (a ideia de David Rockefeller de revitalizar Lower Manhattan) e de políticas (como a população cresceu ao longo de novas linhas de metrô).
A mostra foi concebida e executada por uma equipe de historiadores e organizada por Sarah Henry, Hilary Ballon, historiadora de arquitetura na Universidade de Nova York, e Steven H. Jaffe, escritor e historiador, e projetada pelos escritórios de arquitetura e design Studio Joseph, Local Projects e Pentagram.
Entre os artefatos emprestados ou retirados da coleção de 750 mil peças do museu (incluindo as populares casas de boneca e carros de bombeiros), estão um bastão de guerra Lenape e um corte transversal de uma tubulação de água feita de madeira, da Manhattan Co. (cuja finalidade era criar um banco), um folheto sinistro da "Welcome to Fear City" (Bem-vindo à cidade do medo) que era distribuído aos turistas pelo sindicato dos policiais, descontente na década de 1970, uma pá de prata cerimonial da Tiffany usada para quebrar o chão para o metrô Interborough Rapid Transit, um kit de projetos de Calvert Vaux (ele e seu sócio, Frederick Law Olmsted, projetaram o Central Park) e uma lista de convidados, escrita à mão, que tinham passe livre na Studio 54 (incluindo Ringo Starr e Liberace).
A última galeria faz os visitantes imaginarem a cidade do futuro, propondo uma série de situações hipotéticas que convida à especulação sobre questões como o impacto de um metrô para Staten Island, a mudança climática e a suspensão do estacionamento em lados alternados não apenas em feriados religiosos, mas em todos eles.
Os visitantes podem desenhar sua própria rua, prédio ou parque e responder a outros nova-iorquinos reclamões, cortesia do vídeo-artista Neil Goldberg.
– Nossa história não era inevitável, mas inúmeros motivos convergiram para produzir o que Nova York é hoje. O resultado não necessariamente seria esse, disse Sarah Henry.
E acrescentou: – O futuro não está determinado agora, como também não estava em 1609.