Em 29 de fevereiro, publicamos uma reportagem sobre casais que largaram seus empregos no Brasil para encarar uma viagem pelo mundo. Muita gente gostaria de fazer o mesmo, mas nem todos têm coragem ou disposição para encarar uma rotina incerta na estrada.
Para essas pessoas, aqui vai outra sugestão: que tal conhecer inúmeros países ganhando o salário em dólar e com um custo muito baixo para se manter? Essas são as vantagens de se trabalhar em um navio de cruzeiro. Claro, não tem moleza: o trabalho a bordo pode exigir bastante do tripulante. O bom é que sobra tempo para passear, e ainda dá para fazer uma poupança.
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Foi o que fizeram o professor de Educação Física Ednei Torresini, 37 anos, de Caxias do Sul, e a enfermeira Mirian das Chagas Paula, 31 anos, de São Luiz Gonzaga. Desde 2011, o casal navega pelos oceanos como tripulante de um navio de cruzeiros. Foram, ao todo, quatro contratos com duração de oito ou nove meses cada.
A seguir, o Casal na Estrada, como os dois preferem ser chamados, conta como é a experiência e dá dicas para quem quer se lançar na empreitada.
Como conseguir
Há diversas agências especializadas em trabalho a bordo. Outra maneira de se inscrever é diretamente com as companhias marítimas – são mais de 20 espalhadas pelo mundo. Normalmente, as entrevistas são realizadas via Skype, em português e inglês. Como a companhia em que trabalhamos é da Itália (Costa Cruzeiros), exige que os candidatos tenham um nível básico de italiano.
Algumas agências
– Infinity Brazil – www.infinitybrazil.com.br
– Portside – www.portsideagencia.com.br
– ISMBR – www.ismbr.ne
– Vale Mar – www.grupovalemar.com
Empresas marítimas
– Costa Cruzeiros – www.jobnavio.com.br
– Royal Caribbean – www.royalcareersatsea.com (em inglês)
Funções a bordo
Se você não tem experiência em hotelaria, as agências fazem uma entrevista e analisam seu currículo, indicando em qual setor você se encaixa. Há muitos departamentos: restaurante, bar, governança, cozinha, entretenimento, hospital, fotografia, cassino, excursões, vendas e recepção. O requisito básico é ter um nível intermediário de inglês, que é a língua oficial a bordo.
O Ednei trabalha com aulas de ginástica e coordena as atividades da quadra poliesportiva, e a Mirian, com entretenimento dos adultos. A jornada de trabalho é de oito a 10 horas diárias, às vezes mais – uns dias são mais puxados, outros, mais tranquilos.
Cursos e exames
Antes de embarcar, o marinheiro necessita fazer cursos de segurança, com instruções sobre risco de fogo, procedimentos de evacuação e nomenclaturas do navio. Dependendo da companhia em que irá trabalhar, será solicitada a realização de um curso preparatório para novos tripulantes. Além disso, devem ser feitos exames de saúde, incluindo toxicológico e de sangue. A pessoa não pode ter antecedentes criminais e deve estar disposta a mudanças.
Dinheiro
Uma das principais vantagens de se trabalhar em um cruzeiro é a economia. Os custos de hospedagem e alimentação são por conta da companhia contratante – então, os gastos a bordo são mínimos. O salário varia conforme a função e a empresa.
Algumas pagam mais pela qualificação: fluência em línguas, experiência na área de atuação, grau de instrução e adaptação à vida a bordo garantem melhor remuneração. Há promoção pelo tempo de experiência e por avaliações realizadas no final de cada contrato. Essas avaliações nos dão a oportunidade de subir de cargo e virar chefe de um setor, aumentando significativamente o salário.
Tempo livre
Quando estamos em navegação e não em horário de trabalho, em alto-mar, é possível aproveitar o bar para tripulantes, onde o pessoal de diferentes setores aproveita para conversar e se divertir. Há também uma academia para a tripulação e um espaço externo no navio reservado para nós, onde podemos tomar sol e usufruir de uma jacuzzi. Podemos, ainda, alugar DVDs, livros e jogos de tabuleiro.
E, quando a embarcação está atracada no porto, podemos descer e conhecer a cidade durante o dia. O itinerário do nosso navio, quando estávamos na Europa, era de sete dias. A cada semana, repetia o roteiro, e tínhamos a oportunidade de conhecer melhor os lugares.
Por onde passamos
Conhecemos mais de cem cidades em 30 países de América do Sul, África, Europa e Ásia. Passamos pelos canais de Veneza (Itália), visitamos as pirâmides do Egito, tomamos banho nas belas praias de Ibiza (Espanha, na foto abaixo), passeamos pelas ruelas de Valleta (Malta), experimentamos diferentes comidas na China, andamos na montanha-russa mais rápida do mundo em Abu Dhabi (Emirados Árabes) e estivemos em mais de 40 estádios de futebol.
Andamos de camelo em Sharm El-Sheik (Egito), assistimos a jogos de futebol na Coreia do Sul, navegamos por Halong Bay (uma das sete maravilhas naturais do planeta, no Vietnã), vimos de perto a piscina mais alta do mundo, em Cingapura, conhecemos diversos templos budistas em Bagcoc (Tailândia) e visitamos o Coliseu, em Roma (Itália). Rezamos no Muro das Lamentações, em Jerusalém (Israel), visitamos a Mesquita Azul, em Istambul (Turquia), vimos o vulcão Vesúvio, em Nápoles (Itália), passamos por um tufão no Japão e andamos no cruzamento mais populoso do mundo, em Tóquio (Japão).
Além disso, passeamos pelas Ramblas em Barcelona (Espanha), subimos o prédio mais alto do mundo, em Dubai (Emirados Árabes), compramos eletrônicos em Xangai (China), andamos na calçadas das estrelas em Hong Kong, navegamos no Canal de Suez e fizemos a travessia da Europa (Itália) para o Brasil, cruzando o Oceano Atlântico.
Futuro
No momento, trabalhamos na produção de um livro sobre a vivência a bordo do navio. E, dando continuidade à vida nômade (agora com um bebê a caminho), estamos desenvolvendo um projeto para o início de 2017, que é percorrer o litoral brasileiro do Chuí (RS) até Belém (PA) – desta vez, não pelo mar, mas por terra. Além de visitar as praias e conhecer novas culturas, registraremos a viagem em imagens, diário de bordo e, no final, em um novo livro. O projeto tem uma causa social: como profissionais que trabalham com saúde, nossa proposta é orientar as comunidades sobre o tema. Buscamos parceiros e apoiadores.
Acompanhe o Casal na Estrada
Ednei e Mirian relatam suas experiências no projeto Casal na Estrada, no Twitter e no Periscope (@casalnaestrada), no Instagram (@casal.na.estrada), no Facebook (www.facebook.com/casalnaestrada) e no site www.casalnaestrada.wix.com/casal.