Depois de tentar restaurar um afresco de Jesus com uma coroa de espinhos de quase um século em sua igreja local - o Ecce Homo ("eis o homem"), de Elías García Martínez -, uma pintora amadora viúva de 83 anos foi ridicularizada e enfrentou o desprezo. Notícias da bem-intencionada, mas absolutamente fracassada, restauração de 2012 se espalharam rapidamente pelo globo por meio do Twitter e do Facebook - a imagem foi comparada diversas vezes com um macaco ou um porco-espinho e usada em memes e paródias da Monalisa e da lata de sopa Campbell's.
Mas, hoje, as pessoas nessa vila de palácios medievais e ruelas sinuosas no norte da Espanha estão fazendo uma reavaliação milagrosa da artista, Cecilia Giménez, e de seu trabalho. A tristeza se tornou gratidão por causa da intervenção divina - as bênçãos da publicidade grátis - que fez de Borja, uma cidade de apenas 5 mil pessoas, um ímã para milhares de turistas ávidos para ver seu trabalho, ressuscitando a economia da região.
As ruas da pequena cidade de Borja. Foto: Arnau Bach, The New York Times
Vinícolas locais estão disputando o direito de colocar a imagem em seus rótulos. O retrato borrado agora é agenciado como um sério ícone da arte pop. Cecilia é celebrada todos os anos por moradores, em 25 de agosto, o dia de sua transfiguração. Uma ópera cômica está sendo montada nos Estados Unidos com a história de como uma mulher arruinou um afresco e salvou uma cidade.
Desde que foi restaurada, a imagem atraiu mais de 150 mil turistas do mundo todo - como Japão, Brasil e Estados Unidos - para o Santuário Nossa Senhora da Misericórdia, templo gótico do século 16, em uma montanha de Borja. Os visitantes pagam um euro (R$ 3,24) para estudar o afresco, encaixado em uma parede descascada por atrás de uma cobertura trancada digna da Monalisa no Louvre.
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Na crise econômica dos últimos seis anos, 300 postos de trabalho desapareceram, diz o prefeito de Borja, Miguel Arilla, mas, com o boom da turismo, os restaurantes ficaram estáveis. Os museus locais também se beneficiaram, conta Arilla. O Museu da Colegiata, que fica em uma mansão renascentista do século 16, teve um aumento de 7 mil para 70 mil pessoas nas visitas anuais para ver sua coleção de arte medieval e religiosa.
Quando seu erro correu o mundo, Cecilia (ao centro) ficou arrasada. Hoje, ela é uma celebridade em Borja. Foto: Arnau Bach, The New York Times
José M. Baya, o dono da La Bóveda, na praça do mercado de Borja, afirma que seu negócio floresceu por causa do talento artístico de Cecilia. Seu restaurante, que fica em uma velha adega de pedra, atrai turistas endinheirados.
- O impacto foi realmente sensacional para os negócios. Infelizmente, todo mundo vai até lá para ver uma pintura que, francamente, é feia - conta Baya, que está indo tão bem que já abriu um segundo restaurante.