Ao desembarcar no aeroporto de San José, a capital costa-riquenha, um enorme painel com apenas duas palavras sintetizará toda a sua viagem: pura vida. É um anúncio institucional do governo federal, mas diz muito mais sobre o país limitado pelas fronteiras do Panamá e de Nicarágua do que qualquer guia turístico. O significado? Só quem assiste ao pôr do sol no Pacífico em uma praia rodeada pela floresta tropical entenderá.
Em alto-mar, durante um passeio de barco, perguntei a Juan - o ex-pescador de lagostas e atual marinheiro de 80 anos que aparenta dois terços da idade que realmente tem - o que define o termo. Ele abriu os dois braços, olhou ao redor e, com um sorriso estampado no rosto, disse:
- Todo eso.
Compreendi. "Pura vida" quer dizer um estilo de vida, uma abundância de natureza, um estado de espírito. É viver de pés descalços, é se deparar com um macaco ao abrir a janela de casa, é conhecer a costa oeste pela manhã e encerrar o dia no Caribe. Para mim, isso tem nome: férias.
Se você integra o time dos urbanos e prefere uma grande metrópole a uma praia cujo único acesso é uma estrada de chão batido, desista. Mas para aqueles que enxergam a beleza no rústico e no intocado, não deixe de conhecer. Na Costa Rica, o senso de preservação ambiental parece vir de berço, e mora na população parte da responsabilidade pelo país se destacar internacionalmente com sua biodiversidade preservada: nem só de praias vive o paraíso, mas também de parques e vulcões.
Não foram poucas as pessoas que conheci que fazem da Costa Rica um repetido destino de férias. Quase todos surfistas, é verdade, atraídos pelas ondas do Pacífico ou os tubos do Atlântico. Eximida da capacidade de um minuto sequer de equilíbrio sobre uma prancha, fiz do roteiro que escolhi uma oportunidade de explorar diferentes áreas. O jeito foi alugar um carro logo na saída do aeroporto - mais do que indicado, é extremamente recomendado que o veículo tenha tração 4x4. De cara, descobri que ruas sem nome e estradas livres de asfalto (e iluminação) fazem com que errar o caminho seja mais do que uma possibilidade, mas uma certeza. Com um mapa em uma das mãos e um GPS em outra, saí em busca da "pura vida".
- Prepare-se. Ela existe e vicia - me alertou um conhecido antes da viagem.
Pura verdade.
Dominical
Foto: Débora Ely
Primeira parada: Playa Dominical. Na região sul da costa do Pacífico, trata-se de uma praia que faz valer o significado de rústico. De barro, as ruas principais - que não enchem uma mão - costumam dificultar o acesso na temporada de chuva. Próximo ao paredão verde que compõe a paisagem à beira-mar, não é raro encontrar barracas e bancas de artesanato improvisadas em meio aos coqueiros. A areia é preta, e o pôr do sol no Pacífico, o mais lindo que vi na vida. Simples restaurantes, comandados por ex ou atuais surfistas e decorados por pranchas quebradas, completam a atmosfera do vilarejo.
Parque Nacional Manuel Antonio
Foto: Débora Ely
Águas cristalinas e areias brancas compõem o cenário das praias localizadas dentro de um dos parques mais visitados do país. Mediante pagamento de uma taxa de US$ 10, a entrada só pode ser feita a pé. Ultrapassado o portão, uma trilha abre as portas à diversidade de espécies animais e vegetais da área. Lá dentro, até mesmo o ar é diferente: mais fresco e mais úmido. Macacos e grandes lagartos estão por todos os lados e, junto à orla - e um mar quente e sem ondas - se faz necessário pendurar mochilas e roupas nas árvores. É que famílias de quatis insistem em se "apropriar" de itens - e principalmente alimentos - dos turistas menos atentos.
Playa Hermosa
Foto: Débora Ely
Grudada em Jacó - cidade litorânea com a maior estrutura de resorts, lojas e opções gastronômicas que encontrei no país, Playa Hermosa é tratada como o meca do surf na região central da costa do Pacífico. Coberta por areia negra, que se torna um escalda-pés em dias de sol intenso, a praia possui uma rica vegetação e pequenos hotéis e restaurantes junto à orla - sequer há uma rua os separando. Se há uma dica que vale a pena: procure uma mesa voltada para o mar pouco antes do entardecer e prove um prato com dourado, tradicional peixe do país, assistindo ao pôr do sol.
Playa Carmen
Foto: Débora Ely
Se existe uma região de difícil acesso na Costa Rica, Playa Carmen e sua vizinhança - composta pela cidade de Mal País e colada à intocada Santa Teresa - encabeçam a lista. Vinda da região sul, a minha opção foi embarcar em uma balsa em Puntarenas (cujos horários são espaçados, a espera é uma certeza) até Paquera e seguir a Playa Carmen de carro. Não eram muitos quilômetros, mas a estrada de terra e a noite fechada duplicaram o tempo do percurso. Gisele Bündchen possui uma casa na região, mas aos mortais que não possuem seu próprio avião, a buraqueira faz parte do pacote - e do charme. Na principal e despavimentada via da área, charmosas pousadas, restaurantes de comidas orgânicas e lojas de artesanato são atrativos, além da belíssima praia.
Tamarindo
Foto: Débora Ely
Pejorativamente chamada de Tamagringo, a praia ganhou o apelido graças à invasão de turistas norte-americanos atraídos não só pelas belas praias, mas também pelos baixos preços. Na área - assim como quase em todo o país - pagamentos podem ser feitos tanto na moeda oficial, o colón, como em dólar. E quase todos os locais falam inglês fluente - mais pela experiência empírica do que pelo conhecimento por meio do estudo. Ponto de surf, Tamarindo se cerca de uma estrutura pouco melhor do que demais regiões: existem hotéis, resorts, restaurantes e lojas que formam o centro da cidade. Praias próximas - e belíssimas - atraem quem busca tranquilidade. Entre elas, Playa Avellanas e Playa Negra (para jovens surfistas) e Playa Flamingo (para famílias).
Roca Bruja
Foto: Débora Ely
Cenário de um popular filme de surf, essa rocha em meio ao Pacífico arrecada atletas amadores e profissionais munidos de suas pranchas. Se você não surfa, assim como eu, não tem problema: o passeio é imperdível dentro ou fora do barco. Diz a lenda reproduzida por locais que a pedra ganhou o nome de Roca Bruja por causa do forte barulho que produzia a cada vento forte, suscitando a crença que a região estava assombrada. Claro que não existem bruxas por lá, mas muitas gaivotas, diversos peixes e, sim, tubarões. Há outros atrativos interessantes e seguros: mergulho, praias particulares e a vista ao incrível hotel Four Seasons sediado sobre um monte. Diz-se que, o melhor quarto do resort tem o pôr do sol mais belo do mundo. Não duvido.
Planeje sua viagem:
- Quando ir: de dezembro a abril, a chamada "estação seca" é considerada pela óbvia probabilidade de poucas chuvas, a melhor época para o turismo. Fora o clima, as condições das estradas empoeiradas - ao invés de embarradas pelas precipitações - tornam o deslocamento menos difícil.
- Não é necessário ter visto para entrar na Costa Rica, mas um requisito é indispensável: a vacina contra a febre amarela feita, no mínimo, 10 dias antes do embarque. O controle na entrada é rígido e inflexível - não se embarca para o país sem carteira de vacinação internacional carimbada. O Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia (CIVP) é emitido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
- Ao alugar um carro para desbravar a costa, opte por uma caminhonete com tração 4x4. Sim, o custo será maior, mas evitará imprevistos durante a viagem. As condições das estradas são, realmente, precárias.
- Espanhol é a língua oficial, mas, quem trabalha com turismo, fala inglês. A influência norte-americana pode ser percebida, também, na moeda: colones são convertidos por dólar em qualquer esquina, e são aceitos tanto em postos de gasolinas, como em bares, lojas e hotéis.
- Não é raro ouvir recomendações quanto à segurança nas praias costa-riquenhas. Furtos de equipamentos em carros, como máquinas fotográficas e celulares, são comuns. Não custa: tome conta de seus pertences e redobre os cuidados, principalmente se caminhar sozinho à noite.
Descanso em águas termais
Foto: Débora Ely
Vulcán Areal: trata-se do vulcão mais ativo do país, em volta do qual se espraia um parque nacional. O caminho até ele é sinuoso, formado por uma estrada morro acima tomada por curvas. Para conhecê-lo, o clima tem de colaborar. Um dia nublado e a formação de névoas impossibilita a vista. Se der azar, uma alternativa é conhecer as águas termais do Tabacón Grand Spa - ao pé do parque. Não é preciso pagar a salgada tarifa dos hóspedes, mas um passe de US$ 85 (com direito a almoço ou janta) para desfrutar algumas horas mergulhando nas piscinas aquecidas naturalmente pelo magma encontrado no subsolo. As temperaturas nas fontes variam de 25ºC e 50ºC. Ou seja: um local digno de sair com os dedos murchos.