Enquanto planejava voltar à minha praia preferida no mundo, estava quase tão apreensiva quanto empolgada. Passaram-se cinco anos desde a última vez em que visitei Troncones - cidade com cerca de 600 habitantes enfiada nas montanhas Sierra Madre del Sur, costa mexicana do Pacífico. Naquela época, morávamos em San Miguel de Allende, México, e, às vezes, íamos de carro com nossos dois filhos e dois cachorros. Meu marido e eu passamos a amar este vilarejo de produtores rurais e pescadores por sua própria crueza e sonolência genuína.
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Desde então, correu o boato de que os artistas Julian Schnabel e Damien Hirst tinham casas na região. Acabou, eu pensei, enquanto me preparava para as férias em janeiro passado. Estava imaginando todos os praticantes da arte que certamente os teriam seguido. Como seria possível que um lugar pudesse prosperar no estado contraditório de ser a um só tempo chique e autêntico? Achei melhor corrermos para lá antes que o lugar se tornasse totalmente infestado e transformado numa cidade praieira comum.
Nossa apreensão só piorou com uma nova rodovia no sentido norte do aeroporto de Zihuatanejo. Desta vez, viajamos de nossa casa no Texas com nossos filhos adolescentes e, infelizmente, sem cachorros. Temíamos que a rodovia estivesse, digamos, abrindo caminho para edifícios altos.
Felizmente, quando saímos da rodovia, a 35 quilômetros de Zihuatanejo, ficamos cercados apenas pela floresta tropical. Na cidade, encontramos uma galinha correndo na estrada de terra diante das mesmas "tienditas" empoeiradas e letreiros de hotel e restaurante pintados à mão de que nos lembrávamos. Não havia sinal das pavorosas barracas vendendo camisetas e ímãs de geladeira com formato de concha do mar.
Após conferirmos o hotel, corremos para a ampla praia cheia de pedras para saudar o surfe selvagem que atrai surfistas para cá há anos. As ondas são tubos explosivos de água salgada que fazem um barulho alto ao quebrar. Examinando a costa, não vimos prédios surgindo no meio das palmeiras. No geral, vimos uma grande mancha de vegetação. As únicas estruturas visíveis - casas e hotéis - mal davam as caras, e muitas dessas construções baixas tinha telhados de palmas que se misturavam organicamente. Nenhuma casa tinha ar de ostentação sugerindo que pertencesse a um astro internacional.
Em nossas caminhadas, ficamos tranquilos ao encontrar a praia praticamente deserta, até mesmo nos horários de pico.
Robb Kendrick / NYTNS
Deixa a onda levar
Durante a maior parte do tempo, mantivemos as atividades que passamos a adorar nas visitas anteriores: galopar a cavalo na areia molhada tingida de rosa pelo sol poente e brincar de surfe nas ondas. Bastava colocar nossas pranchas de bodyboarding (fornecidas pelo hotel) numa onda recém-quebrada para a força da espuma nos levar à praia.
Após observar muitos surfistas demonstrarem sua arte perto de nós, não demorou para que os meninos quisessem ir além do bodyboarding. Nessa hora, chamei Mike Linn, da ISA Mexico (também conhecida como Tsunami Surf), para uma lição e, me sentindo com coragem, marquei para todos nós.
Californiano que começou a visitar Troncones 15 anos atrás, Mike nos apanhou no hotel com a picape salpicada de barro. Questionado sobre que mudanças testemunhou, ele respondeu:
- A maior coisa agora é que estão asfaltando esta estrada. Com esta estrada de terra, não tem como ser local de veraneio o ano inteiro. Na temporada de chuvas, de julho a outubro, vira uma lama só.
Foi na hora de pagar Mike que encontrei a certeza que procurava, embora fosse inconveniente. Abri a carteira e vi que não tinha dinheiro suficiente. Mike contou que o caixa eletrônico mais próximo ficava a 20 minutos dali na anti-Troncones: a malcuidada Ixtapa. Ele deixou que eu pagasse mais tarde via PayPal.
Que destino turístico promissor não conta com dezenas de caixas automáticos? Aquele que - espero eu - está determinado a permanecer a cidade pequena e deliciosa do surfe e do sossego que sempre foi.