Assis, ou Assissi em italiano, deverá receber, a partir de agora, muito mais turistas além dos que circulam diariamente pela pequena e encantadora cidade medieval, distante cerca de 200 quilômetros de Roma. Todos dispostos, principalmente, a conhecer a formidável Basílica de São Francisco de Assis.
foto: arquivo pessoal
Erguida em homenagem ao santo católico que abdicou da riqueza em favor dos pobres e que inspirou não só o nome do primeiro papa latino-americano - como também sua orientação pela humildade e humanidade -, a igreja é a principal atração da cidadela italiana, localizada na região da Umbria, província de Perugia.
O complexo da Basílica de São Francisco de Assis, o mais importante monumento da cidade e classificado pela Unesco como patrimônio mundial, é composto por duas igrejas, uma sobre a outra.
Encarapitada sobre um monte, de onde se pode observar uma vasta e bela paisagem, Assis é bem preservada e tranquila. Passear por suas ruas, estreitas e sinuosas, de sucessivas subidas e descidas é cansativo, mas emocionalmente reconfortante. E caminhar é, quase sempre, a melhor maneira de se conhecer as cidades medievais espalhadas pelo velho continente.
Por sorte, quando visitei Assis, em março de 2008, não havia uma profusão de turistas, o que permitiu desfrutar do local com mais tranquilidade. É possível conhecer a cidade em um dia, ou menos, dependendo da disponibilidade de tempo e do objetivo a que se propõe o turista.
Além da Basílica de São Francisco, há a de Santa Clara, várias outras igrejas, ruínas de dois castelos e praças com séculos de história, como a Piazza de Vescovado, localizada fora das muralhas e onde São Francisco renunciou publicamente à riqueza de seu pai.
A visita à Basílica Santa Maria Degli Angeli, próxima à estação de trem, também deve fazer parte do roteiro. Dentro, está a Porciúncula, uma das três igrejas reformadas pelo santo, que teria recebido essa incumbência através de uma visão divina e onde ele teria morrido.
Quem tem tempo e disposição pode subir até a Rocca Maggiore (Fortaleza Maior). Em razoável estado de conservação, a fortaleza dá uma boa ideia de como era um sistema defensivo medieval e ainda proporciona uma das mais belas vistas de Assis e arredores. Mas prepare as pernas, porque a subida é forte.
Depois de andar para cima e para baixo como quem estivesse pagando penitência, cometer o pecado da gula já terá perdão garantido. E, assim como em outras re- giões da Itália, a cozinha na Umbria é farta e saborosa. Pode-se comer pratos com trufas negras, desde que não se vá com o dinheiro contado. E para comprar lembrancinhas religiosas ou típicas da região nem é preciso gastar mais a sola dos sapatos. Dentro e fora do centro histórico há muitas opções de restaurantes e lojinhas.
O santo
Francisco de Assis morreu em 1226 e foi proclamado santo da Igreja Católica em 1228 pelo papa Gregório IX. Nascido Francesco Giovanni di Pietro di Bernardone, em 1182, fundou a Ordem dos Franciscanos em 1208. Além dele, Assis é a cidade natal de Chiara dOffreducci, ou Santa Clara, uma jovem rica e bela, que, aos 18 anos, teria abandonado a família para seguir os passos de Francisco por quem, contam os guias turísticos, era apaixonada platonicamente.
Clara nasceu em 1194 e morreu em 1253. Foi a fundadora do ramo feminino da Ordem Franciscana, também conhecido por Ordem das Clarissas e, assim como Francisco, viveu na mais estrita pobreza.
foto: arquivo pessoal
Basílica monumental
O mosteiro franciscano e a basílica começaram a ser construídos logo após a canonização de São Francisco, em 1228, e foram concluídos em 1253. A inferior tem afrescos de Cimabue, um dos maiores pintores da Toscana, e a superior do seu discípulo Giotto, que retratam cenas da vida do santo.
Faz parte do conjunto, no subterrâneo, a cripta onde estão guardados os restos mortais de Francisco. No local e em muitos outros, é proibido fotografar - norma que nem todos respeitam, mas que naquele dia de inverno, com poucos e silenciosos visitantes, que assim como eu estavam comovidos pela simplicidade do local, de bancos toscos e chão de pedras, ninguém ousou desobeder.
Descendo à cripta, pode-se passar pelo museu das relíquias do santo e admirar a rusticidade da túnica confeccionada com retalhos de um tecido que mais parecia saco de linhagem, e os chinelos com os quais ele teria percorrido a Europa e o Norte da África.