Quer saber por que o povo ia (e continua indo) ao Rio de Janeiro, mesmo durante os anos mais violentos? Pare no calçadão da Praia do Arpoador no fim do dia. À sua frente, um pôr do sol mágico: águas brilhantes, céus em tons pastel e silhuetas dos morros perdidas na névoa a oeste. Às suas costas, uma multidão de cariocas, homens com celulares presos no calção de banho, banhistas se enxugando antes de pedir uma caipirinha no quiosque. No momento em que o sol rosa-choque se esconde no horizonte, todo mundo para, fica em pé e aplaude: uma saudação à cidade, à praia e ao céu.
Em parte, foi por isso que eu e minha filha de sete anos fomos para lá, em dezembro passado: vivenciar uma beleza urbana tão intensa que até os moradores param para aplaudi-la. Essa talvez seja a cidade mais voluptuosa do mundo, com belas praias, montanhas dramáticas, cachoeiras, uma floresta, lagoa e até orquídeas - plantadas pela população - enfeitando as árvores das ruas.
Eu tinha outro motivo: queria testar o novo Rio, supostamente mais seguro. Até pouco tempo, era considerado um destino bem pouco recomendado para mãe e filha. Para que enfrentar os riscos de uma via expressa que sai do aeroporto e que muitas vezes é interditada por causa de tiroteios? Ou ouvir conselhos que começavam com frases do tipo: "Para diminuir os riscos de sequestro..."? Há alguns anos, porém, a forte economia nacional, aliada à honra dupla de ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 e receber a Olimpíada de 2016, estimulou essa cidade de 6 milhões de habitantes a se reinventar.
As autoridades se gabam do fato de a criminalidade carioca ter chegado ao nível mais baixo das últimas décadas. Os traficantes foram expulsos de suas bases, nos bairros costeiros preferidos dos turistas. As revistas de turismo descrevem o Rio como uma cidade imperdível, verdadeiro paraíso onde é possível ver macacos do tamanho de passarinhos, provar o sorvete feito com frutas amazônicas misteriosas. Reservei duas passagens.
Só que quando comecei a falar com amigos e agentes de viagem que a conheciam bem, comecei a questionar se a reabilitação não era mais um golpe de relações públicas do que realidade. As histórias ruins são de arrepiar, sendo que muitas envolvem turistas e, para meu desconforto, são bastante recentes. Comecei a ouvir descrições de roubos e furtos, além de alertas sobre a precariedade dos serviços de emergência.
Assim, eu me vi voando com uma dúvida: será possível visitar o Rio com máximo de prazer e o mínimo de riscos?
Foto: Lianne Milton/NYTNS
Foto: Lianne Milton/NYTNS