
Desde a madrugada de segunda-feira (20), a rotina da dona de casa Cristiane dos Santos, 38 anos, tem sido esperar por notícias do filho Brian Grandi, 20 anos. O jovem é o último desaparecido desde que a ponte pênsil virou entre Torres e Passo de Torres, em razão de um rompimento de cabos.
— O processo é angustiante. A gente fica na expectativa de encontrarem ele em algum lugar desorientado ou sei lá. Ontem eu tava pensando daqui a pouco ele acorda, de repente desmaiou em algum lugar e vai voltar. A expectativa é encontrar né? Com vida, mas ao mesmo tempo a gente fica pensando “se tá aí nas águas tem que encontrar igual, né?” — relata Cristiane.
Acompanhada de parentes e amigas, a mãe de Brian, que também tem outros seis filhos, permaneceu em vigília desde o início das buscas. O número de desaparecidos caiu gradualmente desde o início das buscas, à medida que familiares das pessoas envolvidas no acidente contatavam a Brigada Militar.
Celular
Brian estava com o seu celular e havia enviado fotos e mensagens da festa de carnaval, em que estava com os amigos, para a família. Segundo Cristiane, o grupo estava de carro, em Passo de Torres, e seu filho de bicicleta. O veículo havia ficado perto da travessia, ainda no território de Torres, o que obrigou que Brian tivesse que atravessar a ponte para buscar a bicicleta. A ideia era encontrar os amigos em uma praça depois.
— Quando eu soube que a ponte tinha caído e que o Brian não estava mais recebendo mensagem, eu vim para cá. Eu que encontrei a bike dele ali. Daí eu disse “então ele não atravessou a ponte. Ou ele caiu ou ele ficou lá” — lembra Cristiane.
O delegado Marcos Vinicius Muniz Veloso, responsável pela investigação, confirmou que o rastreamento do celular de Brian registrou a última localização na região da ponte perto do horário do acidente (2h21min de segunda-feira). A pesquisa foi possível através do e-mail da mãe, que estava vinculado ao telefone.
Nesta terça-feira (21), Cristiane disse que seu sentimento mudou de aflição para revolta.
— O pessoal falando que tinha aproximadamente cem pessoas na ponte. Aí vão ver o vídeo, não dá 40 pessoas. (…) Não tinha, na verdade, porque daí se caísse todo mundo, essas cem pessoas, como é que tinha só tinha 30 na água? — questiona comparando com o dado fornecido pelos Bombeiros de que pelo menos 30 pessoas foram resgatadas.
Na segunda-feira, o Instituto Geral de Perícias recolheu um cabo de ferro rompido da estrutura, que será avaliado no Centro de Excelência em Perícias Criminais. O laudo deve sair em 30 dias, segundo a Polícia Civil, que investiga o caso.
Enquanto isso, Cristiane diz que vai seguir sentada perto do rio, tentando se manter forte.
— Não tem o que falar de sentimento, é uma coisa bem difícil de falar para os outros. Nem quero estar comentando muito se não eu desando, estou tentando ficar firme para acompanhar o que está acontecendo — desabafa.
A família é natural de Caxias do Sul e mora em Torres. Segundo a mãe, Brian se mudou nos últimos meses para trabalhar em um supermercado.