Yasmin Dias tinha oito anos quando começou a surfar. Enfrentava meninos nos primeiros campeonatos, pois não havia competidoras para uma categoria feminina. Deixava eles perplexos e alguma coisa emburrados nas posições mais baixas do pódio.
- Eles ficavam: “como assim, perdi para uma menina?!” E eu sentia que estava representando as mulheres.
Com 17 anos, a surfista de Torres já foi bicampã gaúcha, foi finalista do Rip Curl Grom Search - que revelou nomes como Gabriel Medina -, é campeã brasileira da última etapa do circuito virtual do Super Surf e competiu até na Califórnia. Ela comemora que já não está mais sozinha: viu crescer a representatividade feminina nas ondas da Região Sul, especialmente nos últimos três anos. E, no que depender dela, só vai aumentar.
É o terceiro verão que Yasmin dá aulas de surfe para meninas na Praia dos Molhes (marcadas por meio do Instagram, ao custo de R$ 100 a aula individual). Junto com o pai, Zeka Dias, que é o seu treinador, ela já ensinou de crianças a senhoras de 65 anos a pegar ondas no Litoral Norte.
As aulas começam com alongamentos e exercícios indicados por um educador físico, além da simulação na areia. E então as meninas caem na água. Nesta semana, Yasmin e Zeka passaram noções de surfe para duas pupilas animadíssimas, Catarina Padilla, 10 anos, e Beatriz da Motta, 7 anos. Com a língua para fora, a pequena ficou de pé na prancha já no primeiro dia.
A estudante Isadora Rivero, 17 anos, fez algumas aulas e já encomendou a própria prancha.
- Sempre foi algo que eu admirei, é um esporte muito bonito, tem uma conexão com a natureza.
O dinheiro das aulas vai para a carreira de Yasmin, para comprar equipamentos, pagar combustível, estadia para os campeonatos. Zeka segue sendo seu treinador, função que concilia com a de pai coruja.
- A Yasmin tem uma linha de surfe muito bonita, ela criou o jeito dela, de dropar na onda e fluir - diz Zeka, que tenta traduzir: - É como se a onda fosse o quadro e ela, a artista. Ela vai desenhando a onda conforme a onda vai pedindo, sem fazer muito borrão.
O sonho de Yasmin é se tornar profissional e conhecer o mundo por meio do surfe. Esse objetivo passa por mandar bem no campeonato mundial pró-júnior, neste e no próximo ano, e depois nas Qualifying Series (QS), que são como uma divisão de acesso. Daí ela consegue entrar no circuito mundial. Enquanto isso não acontece, ela traz mais meninas para o mundo do surfe.
- Esse esporte é minha vida. Quando pego uma prancha e fico no meu mundo, fico em ligação com a natureza. E queria que mais gurias tivessem acesso a isso. Por isso estamos dando aula para as meninas, para que elas possam sentir o que eu sinto.
Para fomentar o surfe feminino, Yasmin e Zeka ainda estão preparando um evento chamado Women's Surf Day. É uma confraternização gratuita prevista para março, com aula de ioga funcional, exercícios voltados ao surfe e até gincana. Em um único dia, todas as 35 vagas disponibilizadas para mulheres foram preenchidas.