"Não hesite, apite!"
Com essa frase estampada em panfletos, apitos são distribuídos para mulheres na beira da praia de Capão da Canoa, nesta sexta-feira (7). A iniciativa é o Ministério Público (MP), em parceria com a Na'amat Pioneiras Porto Alegre, organização não governamental (ONG) que trabalha com a valorização feminina. A iniciativa tem o objetivo de dar mais um instrumento de segurança para evitar o assédio sexual.
Cerca de 5 mil apitos e panfletos foram produzidos para a campanha, que terá ações também no dia 8 de março, no Parque da Redenção, em Porto Alegre. Por volta das 11h desta sexta-feira, quando a atividade começou, voluntárias faziam a distribuição do material e orientavam as mulheres que passavam pelo calçadão de Capão.
— O objetivo é dar visibilidade às questões relacionadas ao assédio sexual contra mulheres. É um assunto que precisa ser conversado. E essa é uma das formas que a gente tem de colocar o assunto em pauta — destaca a procuradora de justiça e coordenadora do Centro de Apoio de Direitos Humanos do MP, Ângela Salton Rotunno.
Moradora de Santa Maria, a professora universitária Carmem Beck recebeu o apito, de cor rosa, e o panfleto das voluntárias. Estava com a filha Júlia, de 15 anos, que também estava com o material em mãos.
— É preciso orientar e reorientar para que as coisas fiquem no seu devido lugar. É preciso reforçar a importância da família também nessa questão do assédio sexual. Cabe educar a mulher sobre o tema. Acho que o apito pode ajudar numa situação de risco — sustenta a Carmem.
A opinião era compartilhada com a filha Júlia.
— Na minha idade, isso é muito frequente. Se a moda pega, vai ajudar muito — destacou a adolescente.
Marília Goldman Quites, promotora que atua na área de família em Porto Alegre, conta que essa ideia surgiu em São Paulo e surtiu resultados positivos por lá.
— Comecei a fazer parte recentemente do grupo Na'amat. Entre tantas reuniões, surgiu essa ideia. Logo, com sangue de promotora de justiça, pensei em fazer uma ação coletiva com o Ministério Público — conta a promotora.
A presidente da Na'amat Pioneiras Porto Alegre, Suzete Suslik Zylbersztejn, diz que o apito é simbólico, mas também prático para barrar um assédio sexual.
— O apito é um instrumento de denúncia e de proteção contra a violência contra a mulher. Ele também nos possibilita a discussão sobre esses relacionamentos abusivos, de violência, do feminicídio — destaca a voluntária.
A telefonista Carolina Guedes, de 37 anos, chegava com a filha e uma sobrinha na praia quando foi abordada por uma voluntária. Recebeu o apito e o panfleto. Achou ótima a iniciativa.
— Quem está na janela, quem está passando vai olhar e poderá ajudar ou inibir quem está assediando — relata Carolina, que diz que conhece vítimas de assédio. A telefonista diz que sempre orienta sua filha a pedir socorro em qualquer situação de risco.
— Não falar com estranho, qualquer coisa gritar e pedir ajuda.
A orientação das voluntárias é que as mulheres andem sempre com o apito e usem-o quando se sentirem em uma situação de risco.